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26 junho, 2019

Dialética Tardia

As largas portas entreabertas e convidativas
Espreitam a inconsciência atrevida,
Que sugere idiossincrasias circenses
E adoráveis horas de insensatez,
Enquanto subimos e descemos fugazes
Sonhos, nuvens e paladares insones.

27 maio, 2019

A Senda

O caminho é o limiar
Ocultos permanecem os portais
Oro boros guarda serena
Os segredos sagrados
O adepto insiste determinado
O trilhar é derradeiro caminho
O cajado, apoio e sabedoria
O livro, páginas de dias
Os anos, insignificantes instantes
O momento, a eternidade
O início é o fim
O fim, novo princípio
O prêmio, a vida
O preço, a morte
O nascimento e a alegria
O sábio.

Etílico Transparente

Horizonte em chamas me arrasta,
Transporta, transcende...
Inflama a manhã fria,
Conduzindo ao limbo
Os restos de insensatez.
O chilrear nas árvores;
Sinfonia cacofônica;
Trilha sonora sem sentido.
Me arrasta o sol,
Vencendo sombras
E perfumes.

Reticências

As pupilas dilatadas no além,
Depois que estive lá duas vezes;
Olhei-me nu no espelho
Sobre a paisagem dos lençóis,
Enquanto Silencioso eco insistia
Nas lembranças alegres
Senti afeto ao me ver,
Porque olhava e não me via,
Apenas a cama grave
Cheia de reticências,
Indecências
E pedaços de dois;
O Tao perfeito,
Sem espaço,
Estreito.

Pausa Por Favor

Chão de terra é a bênção
Dos pés descalços de ideias
Descanso não senhor
Depois dos pontos e traçados
À beira da estrada da vida
Últimos suspiros em suspenso
Sob o céu repleto de estrelas
Não dormem os desejos
Mas apelam para o silêncio
Que a noite não trouxe.


Na Hora Mais Escura

As estrelas são as concierge da última saída,
Enquanto dançamos os últimos passos,
Antes de atravessarmos os portões
E voltarmos às novidades confortáveis
À luz extasiante que embriaga o dia
Dos sorridentes inocentes
Que nunca souberam de nós.


21 fevereiro, 2019

O Início do Despertar

Andava entre as sombras das folhas e das inúmeras dores do caminho, muitas vezes indiferente ao que se passava ao seu redor, porquanto estava fixado em seu objetivo. Mas a insistência do tempo trouxe a insegurança, o sutil esmorecimento de sua concentração, e seu olhar abriu-se para o mundo que o rodeava ao longo do caminho.

A óbvia e constante manifestação da natureza em flores, ervas e insetos falou-lhe em primeiro plano, seguida da humanidade despertante em seu coração, diante da presença, cada vez mais notada, de seus pares em sua vidas particulares; mesclas aparentemente descompensadas de sofrimento e alegria, que o deixou confuso e respeito de si próprio, pois inevitavelmente espelhara-se e vira-se em situação semelhante.

Este foi o princípio do despertar da sabedoria e a evidência da gestação do sábio que viria a nascer muito em breve; não sem as naturais dores do parto.


04 outubro, 2018

Memórias de Um Velho Futuro 2

Lembro da neve carregada pelo falante vento, quando o inverno batia a nossa porta, trazendo além do frio, uma poesia estranha, que emaranhada nos pequenos cristais, cintilava seus versos em nossas vidas. Era uma trilha estranha a musicar um tempo que não parecia tempo. Olhávamos pela janela e qualquer instante perpetuava-se, sem que pudéssemos saber quanto tempo realmente passara nesta contemplação. Fazíamos nosso próprio tempo e mundo era nossa pequena casa, numa rua que acabava na entrada da floresta; prelúdio da montanha sagrada de nossos sonhos de uma vida, de nossas fantasias infantis decoradas de lendas e histórias, que tomávamos como verdades absolutas e desejávamos fazer parte.

O tempo passou, apesar de nunca nos importarmos com ele. A sagrada montanha coberta com seu manto de neve quase eterno permanece lá fora, como se nos observasse em sua imortalidade aparente. A rua não parece a mesma de antes. Hoje está cheia de pequenas casas modernas, de linhas arrojadas e sem poesia alguma. Triste. Apenas nossa casa permanece tal qual como sempre fora. Importunaram-nos anos seguidos com o futuro e sua insistência em tentar apagar de nossas lembranças a poesia das formas. Relutamos o quanto pudemos e fomos fortes o bastante, para que, finalmente, nos deixassem em paz. Então, assim preservamos não só a história, mas a poesia que poucos têm olhos para ver. 

Tristes tempos estes, onde tudo parece preceder até mesmo o imediatismo. Máquinas substituem todos os trabalhos pesados e os homens apenas se divertem. Talvez alguns valores tenham se perdido entre peças, engrenagens e mudanças. Mas quem realmente se importa? São pessoas deste tempo, cuja razão tão diferenciada burla a si mesma entre distrações e constante prazer. Os rostos que pareciam alegres, apesar das dificuldades e agruras até certo ponto, necessárias, agora parecem máscaras tão frias quanto as máscaras dos robôs que circulam agora por avenidas, em suas formas humanizadas e sua pele de uma mistura artificial de látex com outras tantas coisas que não fazem parte de minha instrução.

Eva me traz uma caneca de chocolate quente. Sinto o cheiro antes mesmo de ela entrar na sala. Tem sido difícil conseguir chocolate de verdade, depois das regras restritivas de saúde, onde apenas frutas são o que de natural permanecem sendo primordial à alimentação. Já não é correto alimentar-se de coisas condimentadas, posto que se saiba hoje, o mal que fazem ao perfeito funcionamento do organismo humano. Ah! Mais com os Diabos! Um chocolate quente não há de fazer tão mal, que não se possa degustá-lo nos dias frios. O radicalismo alimentar matou boa parte dos prazeres que a vida nos oferecia. É claro que existem alternativas artificiais, hoje perfeitamente seguras e que vem substituir os produtos condimentados cheios de conservantes, mas para mim, homem de tempos poéticos e românticos, estas coisas são apenas papel com sabor. 

É, eu sei. Pareço ridículo. Sinto-me ridículo, a bem-dizer da verdade. Mas sou um homem de opinião. Não gosto de ser tratado como gado. 

Está certo. No fundo também não passo de um radical, como qualquer outro “moderninho”. É verdade. Reluto à modernização da sociedade. Mas fazer o que? O progresso é inexorável e tenho que me acostumar.

Pobre Eva. Sempre suportando minhas reclamações silenciosas com um lindo sorriso, que me faz sentir-me novamente uma criança tola. O último herói da resistência à coisa nenhuma. Um pobre bobão que não tem mais do que reclamar e fica buscando colocar chifres em cabeça cavalo. A verdade é que luto contra mim próprio. Sou um ser humano complexo e cheio de birra com coisa nenhuma e com tudo ao mesmo tempo.

Sorvo um pequeno gole do chocolate e respiro fundo. O calor desce pelo peito e, como num passe de mágica, espalha-se por todo o corpo. Adoro chocolate quente.

Tomo mais um gole e resolvo descer para o laboratório. Preciso voltar a desenvolver o novo processador de singularidade quântica. Sinto que não estou longe de descobrir a camada de identificação de vetores de espaço-tempo. Talvez mais alguns ajustes e consiga encontrar a mim mesmo no final da esquina.

Dou uma tímida gargalhada ao pensar que, apesar de toda minha postura ranzinza e minha birra, sou um cientista que todos consideram brilhante e que está a ponto de revolucionar o meio de transporte não só na Terra, mas para outros rincões do universo. Paradoxal. Mas enfim, não faço o tipo estereótipo do cientista. Eu acho...


Memórias de Um Velho Futuro

Por quantos anos os sonhos perduraram, atravessando desafiadoramente nuvens e hálitos de dias funestos? Quantas palavras, dissertações e silenciosos olhares eternizaram a perfeita cumplicidade inigualável e absoluta? Quantos desejos não foram apaziguados na cama perfeita, nas luzes de dias perfeitos, na companhia simples e perfeita? 

Os anos passam rápidos e, de repente, abrimos os olhos e mais nada parece como antes, como se o tempo voasse além de nosso alcance no ínfimo fechar e abrir de pálpebras. E a inevitável certeza do agora que logo passa, é o que resta para nos trazer de volta a solidão imposta, como se a felicidade tivesse que ser compensada com o isolamento de tudo quanto foi o mais importante.

A despedida não é algo fácil, mas a aceitação de seguir em frente é a pior dor de todas, quando se segue então sozinho.

Faz dez anos que ela se foi e, ainda assim, permanece a dificuldade de aceitar o eco de sua voz, como um suspiro sutil, que parece passear por todos os cômodos da velha casa, explorando possibilidades de trazer de volta o passado, quando em realidade é apenas um reflexo de lembrança que escapa à sanidade e resvala pela mente distraída, dando a impressão da atemporalidade, como se nada tivesse mudado, fazendo-nos esquecer a realidade presente e reviver o amor tão vivaz quanto a realidade do passado que se foi.

A casa já não tem a vivacidade de antes. Os móveis continuam nos mesmos lugares, mas já não se tem forças para subir as velhas escadas em caracol, que leva até a suíte de tantos sonhos, tantos momentos inesquecíveis. Melhor assim. Já é bastante difícil conviver com as muitas lembranças que o resto da casa amotina-se contra mim. 

O tempo passou e muita coisa mudou nestes dez anos. O velho carro continua na garagem, sem utilidade. Um bibelô, uma lembrança dos tempos de motores a explosão e a necessidade de veículos para se transportar de um lugar a outro. Os tempos são outros. As ruas são dos pedestres que vejo através das vidraças empoeiradas, quando me animo a olhar para o mundo lá fora. Com o advento dos portais interdimensionais, qualquer outro meio de transporte ficara obsoleto. Apenas eu permaneço aqui, isolado do presente, numa vã tentativa de perpetuar o passado, em nome de um amor que teima em não morrer. Talvez só minha morte possa devorar a ânsia inesgotável deste sentimento que perdura, que insiste em me acompanhar. Oh! Como leviano me tornei. Rio de minhas próprias lamentações, quando meu único desejo é manter esta chama dentro de mim indefinidamente, posto que sua luz ilumina o que me resta de sã consciência. Como me fazes falta, minha querida...


18 maio, 2017

Câncer e Conchas


Há muito tempo que passo o início do outono na casa de praia. Na verdade, foi a única coisa que me sobrou, depois que, há alguns anos descobri que tinha câncer e, como aquela velha história de que algo ruim nunca vem sozinho, fui demitido e deixei de fazer parte do quadro de funcionários da maior empresa de telecomunicações do país.

O tempo passou e acabei torrando tudo de minha conta bancária, em duas fases de tratamento quimioterápico entremeadas por uma maldita metástase. O apartamento foi-se em seguida, para poder pagar os remédios. Então, simplesmente desisti. Numa manhã de quarta-feira, peguei algumas roupas e me mandei da cidade, dos amigos e inimigos, da minha lanchonete preferida, que ficava na esquina... Me mandei daquela vida. Faziam mais ou menos uns seis meses que morava exclusivamente aqui, na casa de praia. Saía muito pouco, apenas para comprar algum mantimento. Ficava a maior parte do dia aqui, sentado, olhando o mar.

Emagreci bastante. Acho que perdi uns quinze quilos. Não importa.

Foi num dia desses, como qualquer outro, que acabei adormecendo na cadeira de balanço, sem sequer perceber o cair da noite. A brisa fresca era um alento e ajudava a aliviar as dores. Às vezes era bem difícil, apesar da morfina e da cannabis, que ajudavam à aliviar um pouco. Nestas horas era muito difícil conciliar o sono, pois a dor diminuía, mas quase nunca ia embora totalmente. Então, tinha mesmo que aproveitar qualquer oportunidade de trégua, para desligar-me desse mundo. 

Foi numa dessas vezes que ela apareceu.

Acordei e já era noite. Pensei ter ouvido alguém falar comigo. Um destes ecos ressonando na memória de lembranças de tempos que já tinham sido esquecidos e que voltam como fantasmas a reclamar a atenção, com medo de se perderem numa eternidade sem fim.

Ainda estava sob o efeito do sono, os olhos meio secos e levei algum tempo, antes de percebê-la parada nos primeiros degraus da escada, observando-me na quase penumbra, com um suave sorriso.

Tentei falar alguma coisa, mas a voz não saiu por conta de um pigarro cretino. Pigarreei e perguntei finalmente, totalmente desconfortável com a visita inesperada. Eu não recebia visitas; eu não gostava de receber visitas.

- O que você quer?
- Eu vim te buscar. - Ela disse.

Minha mente estava confusa e demorarei a concatenar as ideias, quando, finalmente, a ficha caiu.

- Mas quem é você? O que você quer?
- Eu já disse: vim te buscar.
- Mas quem diabos é você?
- E isso importa?
-  Mas é claro que importa! Então, eu acordo com uma mulher, que eu nunca vi na vida, me olhando, tomo um susto, ela me pergunta algo que não faz o menor sentido... Quer dizer, acho que disse... e ainda tenho que encarar isso como uma coisa normal?
- Eu sempre venho.

Ela tinha feições de menina, usava uma roupa estranha, como se fosse um vestido de escamas brilhantes, que cintilavam as cores do arco-íris.

Quando dei por mim, já havia levantado e caminhava a seu lado pela areia da praia.

- Preciso entender tudo isso, balbuciei.
-  Você está morrendo. - Disse-me ela. - Escutei o lamento e a revolta em teu coração. Então, resolvi que era hora de vir.
- Você, por acaso, é a morte?
- Não. A morte é bem diferente de mim. À vi poucas vezes.

Achei aquilo tudo ridículo e tive vontade de expulsá-la, mas não consegui. Havia algo de muito mais importante naquele momento e que eu não sabia dizer ou entender realmente o que era.

- Então, quem é você?
- A última amiga que te sobrou, depois que você afastou todos os outros.
- Mas eu nem te conheço.
- Não importa agora, não é mesmo?

Pensei por uns instantes. Era mesmo. Não importava. De certa forma, até estava apreciando aquele momento de realidade desalinhada.
Caminhamos pela areia sob a luz da lua, em silêncio, então; apenas apreciando a companhia um do outro.
E esta é a última lembrança que eu tenho, de quando ainda era humano.

20 abril, 2017

3 Razões para Você Ler Mais, Mesmo Sendo de Exatas

Era uma típica aula prática de Programação: os alunos, sentados nos seus computadores, tinham uma lista de problemas para resolver enquanto eu circulava pela sala, ajudando-os com as dúvidas que iam surgindo.

Eis que um dos alunos, um bom aluno, me chama e pergunta: professora, não entendi a questão 17, pode me explicar?

Brinquei com ele que eu não tinha memória de elefante, e não sabia de cabeça qual era a questão 17 da lista. Fui até ele, peguei a apostila e comecei a ler em voz alta o enunciado que tinha umas cinco linhas de texto. Quando eu terminei a leitura, o aluno fez cara de quem foi atingido por um raio de luz e declarou: “Ah, agora entendi!” E começou a escrever o programa para resolver o problema.

– “Como assim, entendeu? Eu só li o problema, nem comecei a explicar…”

Uma fração de segundo depois, quem foi atingida por um raio fui eu: tinha me dado conta de que o que ele não tinha entendido era o texto, e não o problema em si! Uma vez que eu fiz a leitura em voz alta, ele entendeu claramente o que dizia ali e o que era para fazer. Ou seja, o rapaz – um estudante universitário fazendo um curso concorrido de uma instituição pública de ensino superior – tinha um sério problema de leitura.

Este é um exemplo extremo, mas o problema não é tão incomum. E não é que os meus alunos fossem particularmente problemáticos. A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, encomendada ao IBOPE pela Instituto Pró-livro, indica que o brasileiro lê menos de dois livros a cada três meses. E este número inclui livros apenas parcialmente lidos E livros didáticos.

Ora, a gente sabe que a “galera de humanas” naturalmente puxa essa média para cima… Daí dá para imaginar que o estado das coisas entre a turma de exatas é ainda mais dramático.

Além do aluno da história acima, não foram raros os casos de alunos fazendo careta toda vez que se deparavam com aqueles problemas “com história”. Qualquer coisa que não fosse no formato “resolva a equação abaixo” era visto com medo e até um certo ressentimento.

Entretanto, a leitura correta dos enunciados de questões de prova é o menor dos problemas de um futuro Engenheiro. Por isso, vou contar três motivos para você ler mais e aprimorar esta habilidade fundamental, mesmo você sendo de Exatas até a raiz dos cabelos… Claro que existe muito mais razões para ler que estas, mas será que você já tinha pensado nestas três?

Razão #1: Você gosta de ler

Dizer que não gosta de ler é como dizer que não gosta de garfo e faca. Simplesmente não faz sentido algum!

Ler é meramente uma ferramenta para você atingir um fim. Você pode gostar de carne assada e não gostar de abóbora, mas o garfo e a faca não tem absolutamente nada a ver com isso.

Do mesmo jeito, você pode até não gostar de ler romances do século XIX, mas com certeza tem algum assunto no qual você tem um interesse mais intenso.

Suponha que o seu interesse mais imediato é encontrar uma namorada ou namorado. Nada a ver com leitura, certo? No entanto, se o seu melhor amigo disser para você que tem um livro que ensina uma receita infalível para conquistar qualquer pessoa que você queira, você vai ler o livro ou não?

Ok, talvez este exemplo tenha sido meio apelativo…

Então você quer mais uma prova de que você gosta de ler? Bem, você chegou até aqui neste texto. Provavelmente o texto chamou a sua atenção o suficiente para que você nem pensasse no “esforço” necessário para ler as mais de 650 palavras do artigo até o momento…

Tem um detalhe nisto tudo que pode explicar o seu pouco apetite para os livros: uma faca cega pode arruinar o seu almoço, principalmente se você estiver com fome. Neste caso, a faca deixa de ser coadjuvante da refeição e vira o centro das atenções, de uma forma nada positiva para ela (a faca). De repente, você passa a verdadeiramente odiar todas as facas.

O mesmo acontece se a sua leitura for lenta demais. Ler muito devagar é como comer com uma faca cega: incrivelmente irritante e frustrante.

A solução é aprender a ler mais rápido. E ao contrário do que você pode estar imaginando, ler mais rápido (na verdade, muito mais rápido) não só é perfeitamente possível como pode ajudar você entender bem melhor aquilo que lê. Confira por você mesmo.

Razão #2: Você não quer um cérebro atrofiado

Tenho certeza de que todo mundo na sua família acha você inteligente, provavelmente mais inteligente que a maioria dos mortais, pelo simples fato de você ser de Exatas. É justo: qualquer pessoa que enfrente toda aquela matemática por vontade própria merece um crédito extra!

Agora, cá entre nós, o cérebro humano precisa de variedade. A neurociência comprova que as atividades que mais ajudam o cérebro a se manter afiado são aquelas que envolvem novos aprendizados. Quanto mais diferente daquilo que você está acostumado, melhor.

Ou seja, se você ficar só na sua zona de conforto, mesmo que seu conforto esteja em fazer cálculos complicados para a maioria das outras pessoas, você está deixando o seu cérebro atrofiar em algum aspecto.

Assustador?

Tudo bem. Você pode começar a mudar isso agora, e aprender a ler de um jeito novo (e muito mais veloz)?

Gente e diversão: dois motivos em um

Você pode adorar aquelas equações, mas na vida real quase ninguém está realmente interessado nisto. Se esse fato é chocante ou irritante para você, talvez você esteja precisando desenvolver sua capacidade para a empatia.

A empatia é a habilidade de se colocar no lugar de outra pessoa e entender o ponto de vista dela, mesmo que ele seja diferente do seu.

Uma excelente maneira de aprender sobre as diferentes formas de se enxergar a vida é através da leitura. Ler sobre pessoas diferentes de você, vivendo em outras épocas, participando de diferentes grupos sociais e passando por experiências que talvez você nunca tenha a chance de passar, dá a você uma dimensão muito mais rica do ser humano.

Só esteja ciente de que você pode acabar com uma enorme vontade de interagir com pessoas diferentes e viver algumas experiências mais variadas, mesmo incluindo pessoas que não são de Exatas!

Neste caso, um pouco de cultura geral pode ajudar a manter as conversas interessantes. E onde mais você vai conseguir uma cultura geral, se não for nos livros? (saber todos os nomes dos participantes do último BBB não vale, ok?)

Você não precisa ler tratados de Filosofia para ter uma cultura geral acima da média. Pelo contrário, você pode aprender se divertindo. Por exemplo, dá para descobrir um bocado sobre a história da França de Napoleão lendo a biografia de Josefina. E de bônus você ainda vai rir um bocado com a peripécias sexuais da alta classe francesa da época.

Ana Lopes
Doutora em Ciência da Computação pela UFMG e ex-professora universitária, a autora do blog Mais Aprendizagem tem como missão ensinar e divulgar métodos de aprendizagem que trabalhem em cooperação com o funcionamento do cérebro, e prepare cada ser humano para brilhar em plenitude no século XXI.

07 abril, 2017

A Última Aventura


Do alto da torre mais alta de seu castelo, ele olhava impávido o cintilar das milhares de estrelas da via láctea, que refletiam em seu olhar vítreo e inumano, onde difícil se tornava vislumbrar razão ou insanidade; qualquer conflito. Nada. Apenas o cintilar estelar.

Moveu-se lentamente, sentando-se sobre o telhado. O vento frio sé era percebido pelo balanço de seus cabelos longos, lisos e brancos.

Cruzadores atravessavam de um lado para o outro, na órbita do velho planeta. Ele não os via, mas sabia que estavam lá, silenciosamente deslizando na negritude celeste, prontos para a guerra, numa época onde não existiam mais guerras. Os conflitos exteriores do ego há muito haviam sido substituídos pelos conflitos internos. As frivolidades da personalidade já não pertenciam à abrangente realidade do mundo interior. Fora um caminho difícil até ali. Fora necessário muito desprendimento, cujo preço fora o sofrimento individual, a luta contra a abstinência dos desejos eternamente insatisfeitos e que precisavam ser abandonados.

A última guerra foi travada e toda a história tomou um novo rumo.

Cidades caíram e foram reconstruídas da forma correta. Algumas nem mesmo reconstruídas foram, sendo devidamente substituídas pela arte sublime da natureza.

Por trás de seu vítreo olhar, as emoções deslizavam suaves entre um estado e outro de pura tranquilidade e ausência de qualquer descompensação.

O planeta mudara, porque os seres humanos mudaram. Resistiram até o cansaço, mas finalmente mudaram.

As estrelas cintilavam em seu olhar, mas ele não as via. Toda sua atenção estava em sentir. Há muito tempo haviam descoberto que o importante não era ver ou fazer, mas apenas sentir. Sinta! - Dizia seu velho amigo e mestre. Ah! Quanto tempo levou para que finalmente o escutasse com a alma e compreendesse a profundidade do que lhe dizia!

Há muito, deuses e qualquer definição de Deus deixara de ter importância; o sentir dera novos rumos à compreensão do universo e o quanto isso implicava no entendimento de si mesmo. O segredo era sentir. Não era propriamente um segredo, mas até então, todos procuravam viver suas vidas como se o sentir não fosse importante. Talvez, porque realmente não alcançassem o significado absoluto de sentir.

Pequenos bólidos em chamas cruzavam a abóbada celeste vez ou outra, queimando em seu atrevimento por chegarem tão próximos da atmosfera.

Deitou-se sobre as telhas frias para aliviar o pescoço e as costas, que começavam a doer.

Pensou por um momento na possibilidade de não existir. Não estava triste nem nada, apenas pensou em como seria interessante, se simplesmente deixasse de existir. Qual deveria ser a sensação?

Sentiu no peito o chamado da aventura. Um pequeno tremer dos lábios denunciou a ousadia de um pequeno sorriso.

Respirou fundo e, fechando os olhos, simplesmente não estava mais lá.

O vento continuou soprando frio; único som furtivo da noite. E as estrelas continuaram a cintilar no firmamento da noite sem fim.


20 dezembro, 2016

SONHOS

Algumas noites
Me levam as sombras
Me mostram vozes perdidas
E observo outros reinos
Passagens restritas 
Nenhuma ciência pode supor
Que sonhos façam sentido
Todas as dores de quem não vê
Seu ideal ferido 
Na luz perco a razão
Reinventando o tempo vazio
Esperando a vinda do sol
Que me leve do infinito frio 
O mar quebra na praia
Indiferente ao céu noturno
Enquanto caminho solitário
Imerso, infinito e soturno.

Olhos No Espelho

Olho-me no espelho
Vejo olhos através de olhos
Impávido fico... observando
A incerteza de ser eu.

11 novembro, 2016

Um pedacinho do livro que estou escrevendo...

Primeiras lembranças...

Por quantos anos os sonhos perduraram, atravessando desafiadoramente nuvens e hálitos de dias funestos? Quantas palavras, dissertações e silenciosos olhares eternizaram a perfeita cumplicidade inigualável e absoluta? Quantos desejos não foram apaziguados na cama perfeita, nas luzes de dias perfeitos, na companhia simples e perfeita? 

Os anos passam rápidos e, de repente, abrimos os olhos e mais nada parece como antes, como se o tempo voasse além de nosso alcance no ínfimo fechar e abrir de pálpebras. E a inevitável certeza do agora que logo passa, é o que resta para nos trazer de volta a solidão imposta, como se a felicidade tivesse que ser compensada com o isolamento de tudo quanto foi o mais importante.

A despedida não é algo fácil, mas a aceitação de seguir em frente é a pior dor de todas, quando se segue então sozinho.

Faz dez anos que ela se foi e, ainda assim, permanece a dificuldade de aceitar o eco de sua voz, como um suspiro sutil, que parece passear por todos os cômodos da velha casa, explorando possibilidades de trazer de volta o passado, quando em realidade é apenas um reflexo de lembrança que escapa à sanidade e resvala pela mente distraída, dando a impressão da atemporalidade, como se nada tivesse mudado, fazendo-nos esquecer a realidade presente e reviver o amor tão vivaz quanto a realidade do passado que se foi.

A casa já não tem a vivacidade de antes. Os móveis continuam nos mesmos lugares, mas já não se tem forças para subir as velhas escadas em caracol, que leva até a suíte de tantos sonhos, tantos momentos inesquecíveis. Melhor assim. Já é bastante difícil conviver com as muitas lembranças que o resto da casa amotina-se contra mim. 

O tempo passou e muita coisa mudou nestes dez anos. O velho carro continua na garagem, sem utilidade. Um bibelô, uma lembrança dos tempos de motores a explosão e a necessidade de veículos para se transportar de um lugar a outro. Os tempos são outros. As ruas são dos pedestres que vejo através das vidraças empoeiradas, quando me animo a olhar para o mundo lá fora. Os meios de transporte usuais ficaram obsoletos. Apenas eu permaneço aqui, isolado do presente, numa vã tentativa de perpetuar o passado, em nome de um amor que teima em não morrer. Talvez só minha morte possa devorar a ânsia inesgotável deste sentimento que perdura, que insiste em me acompanhar. Oh! Como leviano me tornei. Rio de minhas próprias lamentações, quando meu único desejo é manter esta chama dentro de mim indefinidamente, posto que sua luz ilumina o que me resta de sã consciência. 

Como me fazes falta, minha querida...


12 setembro, 2016

O Menino Triste


Por Alexander Zimmer

Neste domingo de manhã, eu vi um menininho em frente de minha casa. Enquanto outras crianças brincavam, ele estava triste e sentado num canto. Cheguei perto e sentei do seu lado.

Respeitei seu silêncio por um instante e depois perguntei porque ele estava triste. Ele pensou um pouco, talvez se deveria falar ou não, até que balbuciou que, na noite anterior tinha sido a festa de 15 anos de uma amiga que ele não via há algum tempo, pois mudara de colégio; mas eles se falavam de vez em quando.

Esperei ele continuar, mas ele não continuou. Então resolvi perguntar qual o problema; se tinha acontecido alguma coisa de ruim com ele na festa. Foi aí, que sua resposta me fez entender, no mesmo instante, o que ele realmente estava sentido.

- Eu não fui convidado. Um monte de gente foi, mas ela não me convidou.

E então, percebi que lágrimas escorriam de seus olhinhos e lavavam seu pequeno rostinho. Pensei por um instante e, colocando-me em seu lugar, senti-me do mesmo jeito que ele estava se sentindo. Olhei, então, para aquele menininho encolhido do meu lado e, chegando mais perto o abracei, dizendo:

- Está tudo bem. Às vezes, as pessoas esquecem dos amigos, mas não é porque são pessoas más; elas só ainda não sabem a importância que pessoas como nós, dão aqueles que amamos. E isso acontece, porque elas ainda não sabem o que é o amor de verdade; elas ainda estão aprendendo.
- Mas eu estou muito triste, por causa disso. - Ele disse.
- Eu entendo. Eu também fico triste, às vezes. Mas tento entendê-las. Afinal, elas precisam mais de amor do que a gente, pois a gente sabe a importância de cada pessoa que passa por nossas vidas; nós nos preocupamos em fazê-las felizes, pois isso nos deixa felizes também.
- É... Acho que sim. Nunca tinha pensado nisso. - Ele balbuciou.
- Então... Um dia, elas vão aprender a dar importância às pequenas coisas e, percebendo que é através delas que demonstramos o carinho que temos pelos outros, elas vão passar a tomar mais cuidado em não esquecer os amigos... Você parece ser um bom garoto. Não deixe que essa mágoa faça você perder a fé nas pessoas. Elas também estão aprendendo sobre a vida, assim como a gente. Perdoe-as e siga em frente, sendo sempre bom e carinhoso com elas, porque você está no caminho certo. Quem sabe, elas não aprendem mais fácil, de tanto observarem que você não desiste de ser uma pessoa boa e amorosa?
- Será? - Disse-me ele, já limpando as lágrimas do rosto.
- Sim, claro! Afinal, o caminho certo é sempre o caminho do bem, o caminho do amor e da compreensão.

Ele pensou durante algum tempo, enquanto olhava para o vazio. De repente, seu rosto se iluminou e ele abriu um sorriso, voltando-se para mim.

- Obrigado, moço. Vou fazer o que o senhor disse. Tchau!

Então, ele saiu correndo em direção às outras crianças, que brincavam na esquina da rua.

Levantei-me e, olhando para o azul infinito e profundo do céu daquela manhã de domingo, senti-me feliz, pois, naquele exato instante, tive a plena certeza de que nunca houve qualquer distância entre cada um de nós e o Universo. Tudo nunca fez tanto sentido, como naquele pequeno momento.


01 julho, 2016

Neil Gaiman - "Faça Boa Arte!"


Em 2012, Neil “Sandman” Gaiman fez um belo discurso para os formandos da Universidade de Artes da Filadélfia, que logo foi postado na internet e se espalhou, inspirando muitos jovens artistas.

Os conceitos de arte, sonhos, bravura e a luta que os artistas devem travar, segundo Gaiman, devem sempre ser inspirados pelo objetivo de fazer “boa arte”.

Assista ao discurso de Gaiman legendado.



O MAUSOLÉU


   O sol já não está tão quente. A distância não é tão grande, mas eu também não tenho pressa. Vou andando e percebendo os detalhes, sem necessariamente observá-los diretamente. É apenas ir confirmando tudo que sempre é como é. As mesmas pessoas, os mesmos afazeres, as mesmas vidas repetitivas, como engrenagens de uma gigantesca máquina aparentemente sem sentido, mas que continua funcionando, funcionando, funcionando sem parar. Algumas engrenagens quebram, mas, apesar da comoção, não devem ter grande significação, pois logo tudo volta ao normal, como se a grande máquina se adaptasse.
   A subida é sempre mais dura e, apesar da ausência de pressa, ainda assim, preciso me esforçar um pouco mais. Mesmo andando devagar, posso sentir a poeira entrando pelas minhas narinas e pela minha boca. É uma sensação desagradável o arranhar seco na garganta. 
   Paro um pouco para tossir. Maldita bronquite.
   Há uma brisa muito suave; uma pequena vantagem de se estar subindo.
   Observo mais uma vez o céu de profundo azul. Algumas nuvens soltas surgem no horizonte.
   Preciso continuar subindo. Então retomo a lenta caminhada. Pé ante pé.
   A brisa atenua um pouco a incômoda sensação de falta de ar.
   As casas vão rareando, à medida que subo.
  Alguns passarinhos de fim de tarde pululam entre galhos de algumas árvores na beira da estrada poeirenta. Talvez estejam questionando a razão do caminhante humano; talvez se perguntem o que há por trás da estranha calma; talvez não questionem nada e nem mesmo dão qualquer importância ao ente andante.
    A curva antes do fim é logo ali. Já começo a ver o topo dos portões que vão surgindo aos poucos. A curva parece o trecho mais íngreme e preciso fazer mais esforço para continuar no mesmo ritmo. Ou talvez seja alguma forma de resistência inconsciente; um último grito silencioso da consciência. Na verdade, não importa.
   Antes de abrir um dos portões, volto-me e dou mais uma olhada para a cidade lá embaixo. Uma tentativa de ver diferente, o que sempre foi o mesmo. Talvez pudesse ver agora, algo que me escapou por todos estes anos. Não. Nada. A mesma vista panorâmica de sempre.
   Suspiro entediado.
  Volto-me novamente, abro o portão e entro no cemitério. Vou andando pelas ruelas mal calçadas. Mas, também, quem se importaria com isso? Os residentes não se importam com nada.
  Lápides, cruzes, fotos amarelecidas, datas esquecidas... Ecos silenciosos de um passado qualquer nas entranhas imperscrutáveis do tempo.
   Já posso ver o mausoléu. Ninguém nunca vai lá.
   O sol está descendo.
   Chego à porta, tiro a velha chave do bolso e, colocando-a na fechadura, giro-a com dificuldade, até ouvir as engrenagens ruidosas e enferrujadas culminarem num estalo pesado e surdo. Empurro a porta que reclama, mas abre.
   Entro sem olhar para trás.
   Fecho a porta apoiando as costas no metal frio e centenário. Sou como a porta; sinto-me igualmente engolido por centenas de anos, que não tenho. Ou talvez tenha.
  O sol entra pelas grades das pequenas janelas, marcando e deslizando pelas paredes mórbidas do tempo.
   Fico um tempo ali, olhando o facho de sol.
  Dou alguns passos e deito-me sobre o túmulo de pedra no meio da sala. Despeço-me definitivamente da verticalidade, sem qualquer delicadeza verbal ou intencional.
   O sol toca meu rosto e deixo o brilho ofuscar-me nos seus últimos instantes.
   A escuridão se aproxima.
   Uma lágrima silenciosa e vazia desde de meu olho. Nada sinto e já não sei se penso sequer.
   Vai ficando escura e fria a pequena sala.
  Fecho finalmente os olhos e, quando a penumbra também se despede, restando apenas a total escuridão, tudo para. Não há mais tempo; não há mais espaço. E, finalmente, nada mais importa.
   Encerro, então, o derradeiro ato. Esqueço quem sou. Não há mais razão. Não há desejo. Apenas o nada.
   Sem dor, sem temor e sem desespero, simplesmente interrompo-me e abandono o ar que já não me serve.

Fim.

06 outubro, 2015

Memórias d'O Tablado: Depois das férias

Lembro de certa vez, quando acabaram as férias e retornamos para o segundo ano de aulas no O Tablado. Cheguei mais cedo, deixei minha mochila num dos acentos e subi ao palco. Não havia ninguém lá, além de mim. Olhei ao redor, a bancada, as luzes, a coxia, a platéia... Uma sensação de certa felicidade, de satisfação por estar matando uma saudade espalhava-se por cada célula de meu corpo.

Dei alguns passos, senti o cheio de lugar antigo. Todos os anos de aventuras, músicas, estórias estavam comprimidos naquele lugar, cada um na sua dimensão própria de tempo, coabitando naquele mesmo espaço, num eterno apresentar-se, entre mundos e consecutivamente.

Então, chegou um colega de turma. Não lembro-me muito bem quem era... acho que era o Leandro Hassun. Ele percebeu de cara o que se passava comigo e soltou um comentário que virou a descrição perfeita do que aquele lugar especial estava se tornando para mim: - É bom voltar pra casa, né? 

Fiquei surpreso de uma forma diferente, como quem descobre aquela palavra que estava tentando lembrar, para descrever algo. A sensação de ver-se compreendido e de compreender a si próprio.

Pronto! Esse momento acabara de se tornar um ponto inesquecível de minha memória e que levarei comigo, como quem acaricia um bebê nos braços e, ao mesmo tempo, é acariciado por alguém que ama. Um ponto na minha história, onde lembro-me que sou um pouco mais humano.