Jaime Barcelos, nascido Jaime Jaimovich em 30 de março de 1930, no Rio de Janeiro, foi um dos nomes mais versáteis e influentes da dramaturgia brasileira. Atuando como ator, radioator, diretor, roteirista, produtor, professor de interpretação e garoto-propaganda, sua carreira se estendeu por mais de três décadas, deixando marcas profundas no teatro, cinema e televisão nacional.
Raízes e formação artística
Descendente de judeus, filho de Zisla Jaimovich, Jaime cresceu em um ambiente culturalmente rico, o que contribuiu para sua sensibilidade artística. Iniciou sua carreira nos anos 1940, ainda jovem, e rapidamente se destacou pela capacidade de transitar entre diferentes estilos e mídias. Sua formação teatral foi sólida, e ele se tornou referência como professor de interpretação, influenciando gerações de atores.
Cinema e televisão: da era clássica à vanguarda
Nos anos 1950, Jaime Barcelos brilhou em filmes como O Comprador de Fazendas, Suzana e o Presidente, Sinfonia Amazônica, Presença de Anita, Floradas na Serra e Destino em Apuros. Sua atuação era marcada por intensidade e precisão, mesmo em papéis secundários, o que lhe rendeu respeito entre críticos e colegas.
Na televisão, participou de produções pioneiras da TV Tupi, como Oliver Twist, Caminhos Sem Fim, Bocage e E o Vento Levou. Posteriormente, migrou para a TV Excelsior, onde atuou em Quatro Filhos, e depois para a TV Globo, com destaque em O Rei dos Ciganos, Rainha Louca e A Gata de Vison.
Seu trabalho em TV de Vanguarda foi especialmente relevante, interpretando personagens complexos como Napoleão Bonaparte e o Capitão Duncan, em adaptações teatrais transmitidas ao vivo — um verdadeiro laboratório artístico da televisão brasileira.
Reconhecimento e legado teatral
Em 1978, Jaime Barcelos foi eleito melhor intérprete teatral do ano pela Associação Paulista de Críticos Teatrais, por sua atuação em Tango, do dramaturgo polonês Slawomir Mrozeck. Também participou de montagens clássicas como Hamlet, consolidando-se como um dos grandes nomes do teatro brasileiro.
Últimos anos e falecimento
Jaime Barcellos faleceu em 24 de dezembro de 1980, aos 50 anos, vítima de edema pulmonar. Sua morte precoce interrompeu uma trajetória artística rica e multifacetada, mas seu legado permanece vivo nas memórias de quem acompanhou sua obra e nos registros históricos da dramaturgia nacional.
Jaime Barcelos foi casado com a atriz Sônia Greiss entre 1955 e 1969, e juntos tiveram dois filhos: Joel e Daniel Barcelos.
Sônia Greiss: parceira de vida e de cena
Sônia Greiss, nascida em Passo Fundo, RS, em 1932, foi uma atriz, radioatriz, dubladora e vedete do Teatro de Revista. Ela teve uma carreira expressiva no rádio, teatro e televisão, sendo coroada Rainha do IV Centenário de São Paulo em 1954. Casou-se com Jaime Barcelos em 1955, e o casal permaneceu junto até 1969. Durante esse período, Sônia também atuou em diversas produções televisivas e teatrais, sendo reconhecida por sua elegância e talento.
Após o fim do casamento, manteve o nome de casada como Sônia Jaimovich. Faleceu em 2004, aos 72 anos, vítima de esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Os filhos: Joel e Daniel Barcelos
Joel Barcelos seguiu caminhos mais discretos, mas sua trajetória pessoal foi marcada por desafios. Faleceu em 2020, aos 63 anos.
Daniel Barcelos, por outro lado, herdou o talento artístico do pai e também atuou como ator. Participou de produções televisivas e teatrais, mantendo viva a tradição familiar nas artes cênicas.
A família Barcelos representa uma linhagem artística que contribuiu significativamente para o teatro e a televisão brasileira. A união de Jaime e Sônia simboliza não apenas uma parceria afetiva, mas também uma colaboração criativa que marcou época.
Jaime Barcelos foi mais do que um ator — foi um construtor de linguagens, um educador da cena e um artista que soube dialogar com o Brasil em transformação. Sua biografia é um convite à redescoberta de um talento que merece ser celebrado com a mesma intensidade com que viveu seus personagens.
Marilyn Monroe não foi apenas um ícone de beleza — ela foi um fenômeno cultural, uma alma inquieta e uma figura envolta em mistério. Sua trajetória, marcada por ascensão meteórica, vulnerabilidade emocional e uma morte cercada de controvérsias, revela muito mais do que o sorriso platinado estampado em pôsteres. Norma Jeane Mortenson, seu nome de nascimento, viveu entre extremos: da infância instável à glória hollywoodiana, da solidão profunda ao status de lenda.
Infância fragmentada e identidade em construção
Nascida em 1º de junho de 1926, em Los Angeles, Marilyn foi filha de Gladys Pearl Monroe, uma editora de filmes com histórico de problemas mentais. Seu pai biológico nunca foi oficialmente confirmado, embora muitos apontem Charles Stanley Gifford como o mais provável. A mãe foi internada em instituições psiquiátricas, e Norma Jeane passou por orfanatos e lares adotivos, desenvolvendo desde cedo uma sensação de abandono que a acompanharia por toda a vida.
Casou-se aos 16 anos com James Dougherty para evitar voltar ao orfanato. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em fábricas, onde foi descoberta por um fotógrafo militar. Assim começou sua carreira como modelo, que logo evoluiu para o cinema.
A ascensão e o estigma da “loira burra"
Marilyn adotou o nome artístico em 1946 e passou por uma transformação física e comportamental para se adequar ao padrão hollywoodiano. Seu cabelo foi descolorido, sua voz treinada para soar mais suave, e sua imagem moldada como símbolo sexual. Estrelou sucessos como Os Homens Preferem as Loiras (1953), O Pecado Mora ao Lado (1955) e Quanto Mais Quente Melhor (1959), mas lutava contra o estereótipo da “loira burra” que lhe era imposto.
Apesar da fama, enfrentava inseguranças profundas, crises de ansiedade e dificuldades para memorizar roteiros. Buscou aprimoramento artístico estudando com Lee Strasberg no Actor’s Studio, tentando se afirmar como atriz séria. Sua performance em Almas Desesperadas (1956) é considerada uma das mais autênticas de sua carreira.
Relacionamentos turbulentos e fragilidade emocional
Joe DiMaggio
Marilyn teve três casamentos: com James Dougherty, Joe DiMaggio (astro do beisebol) e Arthur Miller (dramaturgo). Todos terminaram em divórcio. DiMaggio permaneceu como figura protetora até sua morte, enviando flores ao túmulo dela por décadas. Com Miller, viveu uma relação intensa, mas marcada por frustrações e traições.
Ela também teve envolvimentos com figuras poderosas, como John F. Kennedy e Robert Kennedy, o que alimentou teorias conspiratórias sobre sua morte. Sua dependência de barbitúricos e álcool, somada à pressão da fama, agravou seu estado psicológico.
Morte controversa e legado eterno
John F. Kennedy
Em 4 de agosto de 1962, Marilyn foi encontrada morta em sua casa, aos 36 anos. A causa oficial foi overdose de barbitúricos, mas as circunstâncias levantaram suspeitas: ausência de copo de água, contradições nos depoimentos, e a rápida remoção de evidências. Teorias variam entre suicídio, acidente e encobrimento político envolvendo os Kennedy.
Mesmo após sua morte, Marilyn Monroe permanece como um dos maiores ícones da cultura pop. Sua imagem é reproduzida em arte, moda e cinema, mas sua história real — marcada por luta, dor e busca por autenticidade — é frequentemente eclipsada pelo mito.
Marilyn Monroe foi moldada por Hollywood — e também silenciada por ela. Seus registros médicos e a manipulação midiática revelam uma mulher vulnerável, controlada e, em muitos aspectos, ocultada.
Manipulação midiática: a construção e destruição de um ícone
Desde o início de sua carreira, Marilyn Monroe foi transformada em produto. A indústria cinematográfica criou uma persona — a “loira sensual e ingênua” — que não refletia sua verdadeira personalidade. Norma Jeane era inteligente, culta, leitora voraz de Dostoiévski e Joyce, mas isso raramente era mostrado. Os estúdios controlavam sua imagem, suas entrevistas e até seus relacionamentos públicos.
A mídia reforçava esse estereótipo, ignorando suas tentativas de se afirmar como atriz dramática. Quando ela fundou sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions, em 1955, foi vista como uma afronta à ordem estabelecida. A imprensa passou a retratá-la como instável, difícil e emocionalmente frágil — uma narrativa conveniente para deslegitimar sua autonomia.
Registros médicos revelados: cirurgias, traumas e medicação
Em 2013, documentos médicos de Marilyn foram leiloados, revelando detalhes antes ocultos:
- Aos 24 anos, ela passou por uma cirurgia para corrigir uma “deformidade no queixo”, com implante facial.
- Também há registros de rinoplastia leve e tratamentos dermatológicos para cicatrizes causadas por acne.
- Os documentos indicam uma gravidez ectópica e múltiplos abortos espontâneos, o que contradiz a imagem pública de mulher sedutora e despreocupada com maternidade.
Além disso, foi revelado que Marilyn era tratada com barbitúricos, anfetaminas e tranquilizantes, prescritos por diversos médicos — às vezes simultaneamente — sem coordenação entre eles. Essa polifarmácia contribuiu para seu estado emocional instável e possivelmente para sua morte.
Autópsia e controvérsias: o silêncio institucional
O legista Thomas Noguchi, responsável pela autópsia de Marilyn, revelou em sua biografia recente que se arrepende da forma como o caso foi conduzido. Ele afirma que houve pressão para encerrar rapidamente o caso como “suicídio por overdose”, sem investigar profundamente as circunstâncias.
Entre as inconsistências:
Não havia copo de água no quarto, apesar da ingestão oral de comprimidos.
A empregada e o psiquiatra mudaram suas versões dos fatos.
A autópsia não incluiu análise completa do conteúdo estomacal.
Esses elementos alimentaram teorias de conspiração envolvendo os irmãos Kennedy, com quem Marilyn teria tido relações íntimas. Alguns acreditam que ela foi silenciada por saber demais — outros, que foi vítima da negligência médica e institucional.
A mulher por trás do mito
Marilyn Monroe foi uma mulher complexa, marcada por traumas, inteligência e desejo de liberdade. A manipulação midiática e os registros médicos revelam uma figura profundamente humana, que lutava para existir além da fantasia projetada sobre ela.
Sua história é um alerta sobre os limites da fama, o poder das narrativas e o preço da beleza em uma sociedade que consome ícones — e os descarta quando se tornam incômodos.
Marlon Brando não foi apenas um dos maiores atores do século XX — ele foi um símbolo de ruptura, intensidade e contradição. Sua vida e carreira misturam genialidade artística, ativismo político e escândalos pessoais que desafiam qualquer narrativa simplista.
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Do Nebraska à Broadway: o nascimento de um ícone
Nascido em Omaha, Nebraska, em 3 de abril de 1924, Brando cresceu em um ambiente familiar conturbado, marcado pelo alcoolismo dos pais e pela separação precoce. Aos 20 anos, mudou-se para Nova York e mergulhou no método Stanislavski, estudando com Stella Adler e no Actor’s Studio. Sua estreia na Broadway com Um Bonde Chamado Desejo (1947) foi explosiva — e a adaptação para o cinema em 1951 o consagrou como o novo rosto da atuação visceral.
Um Bonde Chamado Desejo
Hollywood aos seus pés - e sob seu desprezo
Brando conquistou dois Oscars: por Sindicato de Ladrões (1954) e O Poderoso Chefão (1972), onde sua interpretação de Don Corleone redefiniu o arquétipo do mafioso. Mas sua relação com Hollywood era ambígua. Ele desprezava o sistema de estúdios, sabotava gravações com atrasos e exigências excêntricas, e chegou a recusar o Oscar de 1973 em protesto contra o tratamento dado aos nativos americanos.
O Poderoso Chefão
O ativista e o homem em conflito
Brando foi um defensor fervoroso dos direitos civis e das causas indígenas. Esteve ao lado de Martin Luther King e apoiou publicamente os Panteras Negras. Mas sua vida pessoal era marcada por excessos e tragédias: teve 11 filhos, incluindo Christian Brando, condenado por homicídio, e Cheyenne Brando, que morreu por suicídio após anos de sofrimento psicológico.
Escândalos, isolamento e legado
Apocalypse Now
Nos anos finais, Brando viveu recluso, lutando contra problemas de saúde e financeiros. Seu comportamento errático e suas exigências em sets de filmagem — como em Apocalypse Now (1979), onde apareceu acima do peso e sem decorar o roteiro — tornaram-se lendas de bastidores. Ainda assim, sua influência permanece viva: Brando redefiniu o que significa *atuar com verdade*, inspirando gerações de artistas como Al Pacino, Robert De Niro e Johnny Depp.
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Marlon Brando foi um artista que viveu em guerra com o mundo — e consigo mesmo. Seu legado não é apenas cinematográfico, mas existencial: ele nos ensinou que a arte pode ser um grito, uma ferida e uma forma de resistência.
Aos olhos do mundo, *Lawrence da Arábia* (1962) surgiu como uma miragem cinematográfica — deslumbrante, monumental, quase impossível. Nos bastidores, porém, sua produção refletia a própria jornada do protagonista: uma saga de obsessão, resistência e embates contra forças colossais, tanto da natureza quanto da humanidade. Nascido de um gesto audacioso, o filme enfrentou censura em países árabes por alegada distorção histórica. Foi Omar Sharif quem salvou seu destino, organizando uma exibição privada para o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser. Convencido, Nasser não apenas autorizou sua exibição como o abraçou, transformando-o em um fenômeno nacional. Antes mesmo de chegar às telas, a obra já imitava a vida — rompendo fronteiras políticas com a força de sua narrativa.
A origem do projeto foi marcada por uma obstinação quase delirante. David Lean, diretor perfeccionista, recusou os caminhos seguros propostos pelo produtor Sam Spiegel e exigiu filmar nos locais autênticos da história. Essa decisão desencadeou uma avalanche de desafios logísticos e diplomáticos. Spiegel, judeu, precisou de um visto que o identificasse como “anglicano” para entrar na Jordânia. Cada litro de água cruzava 242 quilômetros de deserto. Para registrar a entrada mítica de Omar Sharif, o diretor de fotografia Freddie Young utilizou uma lente de 482 mm criada exclusivamente para a cena — batizada, desde então, de “lente David Lean”. O deserto não era pano de fundo: era um personagem vivo, exigente, quase divino.
Sob o sol inclemente, os atores moldaram seus papéis e suas próprias resistências. Peter O’Toole enfrentou uma iniciação brutal: sua pele irlandesa queimou, seu corpo acumulou fraturas, e seu traseiro sangrou de verdade sobre a sela do camelo. A solução? Uma camada de borracha esponjosa, que lhe rendeu o apelido carinhoso dos beduínos — “o pai da esponja”. O’Toole viveu meses no deserto, dormindo sob as estrelas, enquanto a figurinista Phyllis Dalton traduzia seu desconforto psicológico em uniformes mal ajustados e túnicas árabes cada vez mais translúcidas. Alec Guinness, por sua vez, foi maquiado com tal precisão que chegou a ser confundido com o verdadeiro Príncipe Faisal pelas autoridades locais.
O ápice da produção foi tão turbulento quanto as batalhas retratadas. Na filmagem do ataque a Aqaba, O’Toole e Sharif, bêbados e apavorados, amarraram-se aos camelos. Um efeito especial disparou antes da hora, fazendo o animal de O’Toole correr em pânico — quase o esmagando sob a cavalaria. Ao mesmo tempo, a tensão entre Lean e Spiegel atingia o limite. Spiegel, ausente do set, simulava ataques cardíacos para manipular o orçamento. Lean, em revanche silenciosa, inseriu um frame nas diárias mostrando seu dedo do meio para o produtor.
O legado de *Lawrence da Arábia* está intrinsecamente ligado ao caos de sua criação. A jornada de mais de dois anos — mais longa que a campanha real de Lawrence — não gerou apenas um filme, mas uma lenda. O general que enlouqueceu de insolação, os copos plásticos banidos por Lean, o corte de fósforo sugerido pela editora: cada obstáculo vencido adicionou uma camada de autenticidade e grandeza à obra. Quando a trilha triunfal de Maurice Jarre ecoou sobre as dunas, ela não celebrava apenas um homem — mas o triunfo coletivo de uma equipe que, enfrentando o impossível, domou o deserto e eternizou sua história.
Se você quer manter a linda história da Disney em sua mente, não leia este texto, pois pode mudar para sempre a bela imagem de Lilo e Stich que você tem na lembrança.
Muitos viram o lindo filme da Disney, que é sobre as aventuras de Lilo, uma garota havaiana de 5 anos que encontra um experimento alienígena e se torna sua melhor amiga. Mas nada disso é a realidade. Vamos à história que contam em determinada região do Hawaii.
Lilo era uma garota que ficou órfã, pois seus pais morreram quando foram esmagados por uma grande árvore que caiu sobre sua casa, como resultado de uma horrível tempestade. Lilo foi colocada pelas autoridades em um orfanato, mas acabou fugindo e indo viver nas ruínas de sua antiga casa, alimentando-se das esmolas que pedia aos habitantes da ilha.
Stich
Obviamente, Stich não era um alienígena, mas, na verdade, um filhote de cachorro que Lilo encontrou em um depósito de lixo; ele se tornou sua única e inseparável companhia, seu confidente, seu amigo.
Lilo nunca teve uma irmã, como mostra o filme; era tudo um produto de sua imaginação, de sua necessidade de fugir da dura realidade. Não raras vezes, Lilo e Stich se sentavam em frente à praia para sonhar acordada e imaginar que tinha uma irmã, amigos e grandes aventuras.
Nove anos se passaram. Lilo estava crescendo, já tinha 14 anos, mas ainda estava apaixonada por seu mundo e suas aventuras imaginárias, ao lado de seu cão inseparável. Como a dificuldade em lidar com a realidade aumentava dolorosamente cada vez mais, Lilo acabou se envolvendo com drogas e, para poder manter seu mundo ilusório e escapar dos sofrimentos de um mundo duro ao qual fora jogada pelo destino, começou a se prostituir para ganhar dinheiro e poder comprar as drogas que lhe facilitavam voltar a seu mundo onírico.
A história de Lilo e Stich foi compilada pela Disney, baseada nas histórias contadas pela própria Lilo às equipes médicas, nas várias tentativas realizadas de ser internada numa clínica de reabilitação, mas que ela sempre recusava. Ela contou sobre seu mundo e suas aventuras ao lado de seu amigo Stich e como ela estava feliz em escapar da realidade.
Lilo estava cada vez mais mergulhada em seu mundo químico/imaginário e, tempos depois, como uma triste consequência, Lilo acabou sendo encontrada morta nas ruínas de sua casa, como resultado de uma overdose. Seu corpo foi encontrado por vizinhos incomodados pelo cheiro nauseante de podridão que se espalhava pela vizinhança. Seu cão inseparável não a deixou sozinha em nenhum momento.
Stich jamais se separou de sua dona, mesmo depois que essa faleceu e foi enterrada num cemitério. Conhecedoras da história, pessoas levavam alimentos para Stich, que jamais sequer os tocou. Profundamente triste, Stich definhou até a morte sobre o túmulo de Lilo e, finalmente, pode novamente ficar com sua dona.
A Disney, como sempre, conseguiu transformar uma tragédia em um belo conto áudio-visual, que fascina adultos e crianças até hoje.
O conto de fadas A Branca de Neve e os Sete Anões, dos Irmãos Grimm, já deu asas à imaginação de várias gerações. Mas fatos sugerem que a heroína das crianças tenha sido mais do que uma simples personagem fictícia.
Milhões de pessoas conhecem o conto de fadas da Branca de Neve, a bela princesa que escapa de sua madrasta invejosa e vai viver na casa de sete anões. Na história escrita pelos alemães irmãos Grimm em 1812, a madrasta má tenta matá-la depois de seu espelho mágico lhe dizer que Branca de Neve é "a mais bela de todas".
Moradores da cidade alemã de Lohr am Main, próxima a Frankfurt, gostam de acreditar que o espelho mágico realmente existe. Na verdade, ele está na cidade, exposto no Museu Spessart. Isso é porque, de acordo com algumas fontes, a menina que inspirou o conto de fadas, de fato viveu em Lohr am Main.
Entretanto, a verdadeira Branca de Neve, Maria Sophia Margaretha Catharina von Erthal, era um pouco diferente da princesa da história. Ela era de origem nobre e nasceu no ano de 1729 no castelo de Lohr, que hoje abriga o Museu Spessart. Ela também tinha uma madrasta dominadora: Claudia Elisabeth Maria von Venningen.
Eckhard Sander e suas pesquisas
Segundo o pesquisador e estudioso alemão Eckhard Sander, que escreveu um livro, fruto de suas pesquisas, intitulado 'Branca de Neve: É Um Conto de Fadas?', lançado em 1994.
O livro de Eckhard Sander
Margaretha de Waldeck, nasceu em 1533, filha do Conde alemão Philip IV, da casa real de Waldeck-Wildungen. Em 1546, aos 16 anos de idade, Margarete foi obrigada por sua madrasta, Katharina de Hatzfeld – com quem não tinha um bom relacionamento -, à mudar-se para Bruxelas. Na Corte de Bruxelas, ela chamaria à atenção de ninguém menos que o príncipe Filipe (futuro Filipe II da Espanha), apaixonado-se e tornando-se sua amante, para desgosto de sua madrasta, que intrometia-se sempre na vida de sua enteada.
No entanto, a ideia de que a jovem pudesse tornar-se uma princesa, foi insuportável para o pai de Filipe, Carlos V, que via na união de seu herdeiro com a jovem, um matrimônio politicamente desvantajoso. Sander escreveu que von Waldeck morreu aos 21 anos de idade, em 1554, envenenada por autoridades espanholas às ordens do pai de seu amado.
De acordo com sua pesquisa, o método de utilizar veneno, foi escolhido para afastar a suspeita de um assassinato, justificado então, por uma doença degenerativa. Sander também citou evidências para sua alegação, como o testamento que a jovem escrevera pouco antes de morrer, com uma caligrafia frenética e torta, mostrando os típicos sintomas de uma vítima de avançado estágio de envenenamento.
Embora não possamos afirmar se von Waldeck fora de fato morta por veneno, uma coisa é certa, contrariando a história tradicional, a jovem não fora assassinada por sua madrasta, que já havia falecido antes de sua morte. Mesmo não sendo exatamente igual ao conto de Branca de Neve, a história traça bastante paralelos em comum. Margarete era uma bela jovem alemã, atormentada por sua madrasta malvada, que apaixona-se por um príncipe e é envenenada. Sander apontou outras similaridades entre a Branca de Neve fictícia e von Waldeck, sendo uma delas, a maçã envenenada.
Ele acredita que a maçã fora acrescentada à história de von Waldeck, após um acontecimento histórico na Alemanha, onde um homem foi preso após dar à crianças que ele acreditava que o haviam roubado, maçãs envenenadas para que pagassem por seus crimes. Ele também apontou que, assim como no conto dos Grimm, Margarete possuía os cabelos louros. Outro ponto interessante, é que a jovem cresceu na região de Bad Wildungen em Hesse, Alemanha, onde crianças que trabalhavam em condições precárias em uma mina de extração de cobre, eram referidas como ”anões”.
Os passos da princesa
Os detalhes da história também podem ser acompanhados no museu, incluindo a trama de assassinato e a fuga de Branca de Neve pelas montanhas até chegar à casa dos sete anões. Na verdade, os anões eram provavelmente crianças que eram usadas como trabalhadores, como citamos acima.
Acredita-se que a rota de fuga da Branca de Neve tenha sido de 35 quilômetros por meio da cadeia de montanhas de Spessart, uma das maiores áreas de floresta decídua da Alemanha. Sinais ao longo da rota dão aos visitantes a chance de aprender mais sobre a ligação das florestas com os contos de fadas.
O posto de informações turísticas em Lohr am Main oferece programas especiais de caminhadas. Também fornece informações sobre atrações locais, como a cidade velha, com suas casas em estilo enxaimel, o histórico bairro dos pescadores e a antiga câmara municipal.
É claro que a atração imperdível da cidade é o castelo de Lohr e o Museu Spessart, que abriga uma coleção de espelhos fabricados na região.
Contos de Fada fazem a alegria de crianças em todo mundo, abrindo as portas para reinos de imaginação e de sonhos, onde tudo é possível. Mas nem sempre foi assim.
As primeiras versões de algumas das mais conhecidas fábulas infantis não tinham nada de encantadoras ou alegres, muito pelo contrário, elas eram horrendas, violentas e grotescas. Serviam acima de tudo como parábolas sobre moralidade e comportamento. Nelas as crianças que não agiam conforme o esperado, sofriam, eram repreendidas ou simplesmente morriam de forma aterrorizante deixando uma lição de moral.
Um dos contos de Fadas mais famosos de todos os tempos, "Chapeuzinho Vermelho" pode parecer inocente para a maioria, mas quando a fábula surgiu, ela era muito diferente. Haviam conotações ocultas que tornavam a história da menina que leva doces para sua avozinha algo bastante sinistro.
A origem de "Chapeuzinho Vermelho" (Little Red Riding Hood) pode ser traçada até muito antes do século XVII, quando surgiu sua primeira versão escrita. Antes ela já figurava no folclore e tradições orais de vários países da Europa. Algumas destas versões eram bastante diferentes, embora diversos elementos fossem comuns e pudessem ser reconhecidos. A fábula era contada por camponeses franceses no século XI, documentada pelo historiador Egbert de Liege em 1550. Na Itália, ela era popular entre camponeses desde o século XIV, sendo que existiam várias versões, incluindo "La finta nonna" (A Falsa Vovozinha) uma das mais difundidas. Chapeuzinho foi reescrita várias vezes, inclusive por Ítalo Calvino que a acrescentou em seu compêndio de folclore. Versões da mesma fábula também podiam ser encontradas na Suécia, Noruega, Alemanha, Países Baixos e Espanha.
Essas primeiras variações da fábula se diferem das versões atuais em vários aspectos. O antagonista principal nem sempre é o "Lobo Mau", o monstro algumas vezes é retratado como um ogro, vampiro ou troll. Em algumas versões, a criatura é um lobisomem, o que tornou a história extremamente relevante nos julgamentos de criminosos suspeitos de licantropia durante a Idade Média. O famoso Julgamento de Peter Stumpp, na Alemanha, se valeu da fábula para enquadrar o acusado.
A história em algumas versões era realmente bizarra.
O lobo deixava o corpo da velhinha para a criança se alimentar, dizendo que se tratava de carne de cordeiro. Faminta pela sua jornada, a criança comia avidamente e canibalizava a própria avó. Em outra versão, o lobo confronta a velha e a obriga a remover suas roupas ou jogá-las na lareira. A velha fica aterrorizada por ser forçada a se desnudar diante da fera, mas o lobo diz: "Não se preocupe, não é essa a fome que eu pretendo saciar!". Finalmente quando a mulher está despida, ele a devora. Em uma versão especialmente aterrorizante, a história termina quando a menina deita com o lobo na cama e este a mata. Numa outra, chapeuzinho percebe o disfarce do lobo que assumiu a identidade da avó, e se desculpa, retornando para a floresta, alegando que havia esquecido a cesta que carregava. O lobo no entanto, amarra um barbante no pé da criança e a persegue pela floresta em uma caçada implacável. Em boa parte das histórias não existe sequer a figura do caçador. A menina fica por conta própria, precisando enfrentar o medo e a ameaça do lobo recorrendo apenas a sua inteligência. Na Espanha, a menina dá lugar a uma adolescente que tenta escapar de investidas claramente sexuais por parte do lobo. Na Polônia, a menina dá lugar a um rapaz. O capuz vermelho está quase sempre presente, mas em algumas versões a protagonista usa uma capa feita de folhas verdes.
Em uma versão francesa, Chapeuzinho escapa graças à ajuda de uma lavadeira que aconselha a menina a pular em um rio e se manter debaixo d'água. Quando o capuz vem à tona, o lobo acha que a criança se afogou e vai embora. Na Ucrânia, o lobo é empurrado no fogo pelo espírito da avó que ressurge como um fantasma para salvar a menina no último momento. No final dessa história, a menina é severamente repreendida pelo fantasma da avó que culpa a neta por ter sido tola e ter causado sua morte. A menina adota a identidade da avó e passa a morar na casa que pertenceu a esta como compensação.
Especialistas em folclore conduziram uma pesquisa em 2009 na qual identificaram 58 versões diferentes de Chapeuzinho Vermelho.
A versão impressa mais antiga tem o título "Le Petit Chaperon Rouge" e teve sua origem em meados de 1670. Ela fazia parte de uma coleção de fábulas a respeito de moral e comportamento infantil. Nessa versão Chapeuzinho Vermelho pegava um atalho apesar da mãe alertá-la para nunca fazê-lo. Por conta disso, o lobo encontrava a menina e matava sua avó. O conto deixava implícito que a culpa pela tragédia era unica e exclusivamente da criança que não obedecia as instruções da mãe.
Em 1697, Charles Perrault escreveu uma das versões mais conhecidas da fábula que foi responsável por popularizá-la em toda Europa. Esta é possivelmente uma das versões mais violentas e sinistras de Chapeuzinho Vermelho. A menina conforme a descrição de Perrault é "atraente e bem criada", quase uma adolescente, nascida em uma aldeia no interior da França. Na história, o lobo engana a menina e a convence a revelar a localização da casa de sua avó. O lobo age de forma simpática, engana e seduz sem jamais parecer malvado. A seguir, ele corre até a casa, evitando um grupo de lenhadores que haviam advertido a menina do perigo de falar com estranhos. Chegando na casa, o lobo devora a velha de maneira sangrenta. "As mordidas arrancam pedaços e dilaceram seu corpo".
Ele então veste os trajes da avó e prepara sua armadilha. A menina chega e embora desconfie de que algo está errado, acaba cedendo ao pedido do lobo disfarçado para que suba na cama. O lobo então a ataca com a mesma violência e a devora viva. A história se encerra dessa maneira, com o lobo emergindo como o vencedor e todas as demais personagens caindo como vítimas.
Não existe final feliz, Perrault explica a moral da história no último parágrafo para que não reste nenhuma dúvida de seu significado:
"Com essa fábula aprendemos que crianças, especialmente moças jovens, bonitas e bem nascidas, correm perigo ao falar com estranhos. Lobos, afinal de contas, podem espreitar em qualquer estrada. Nós dizemos "lobos", mas nem todos lobos são iguais, alguns são simpáticos e agradáveis - não são selvagens ou furiosos, mas domados. Eles seguem as jovens pelas estradas e ruas, se preciso, até suas casas. Por sinal, é bom saber que esses lobos gentis e simpáticos, são de longe os mais perigosos!".
Esta versão presumivelmente a original da fábula escrita na França se tornou popular na corte do Rei Louis XIV. O Rei costumava entreter seus convidados em festas extravagantes e estes sem dúvida conseguiam entender perfeitamente o sentido da história. O termo "lobo" começou então a ser associado a homens interessados em assediar e perseguir moças mais jovens.
No século XIX os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm - conhecidos como Irmãos Grimm, adaptaram a história e introduziram elementos inovadores na trama. A primeira parte da trama adaptada é bastante semelhante a história de Perrault, entretanto eles modificaram o final: a menina mata o lobo depois de reconhecer se tratar de uma fera disfarçada. Ela consegue empurrar o lobo na direção de uma lareira acesa e este morre queimado. A avó, no entanto, não sobrevive.
Em uma segunda revisão, os irmãos escreveram nova mudança, a menina e a avó são devoradas pelo lobo, mas na última hora um caçador atrás da pele da fera o mata. Ao abrir a barriga do lobo encontra avó e neta em seu interior ainda vivas. A lição de moral é transmitida, mas sem o trauma da morte ou tragédia.
Em 1857, Chapeuzinho Vermelho já havia se tornado a história de maior sucesso dos Irmãos Grimm e eles decidiram fazer uma terceira versão que amenizava ainda mais o final. Nela, incluíram a menina reconhecendo o disfarce do lobo e fugindo sem ser devorada. Ela corre para o caçador e este mata a fera e remove a avó de sua barriga. Essa talvez seja a versão mais próxima da história que ouvimos quando criança. Nela, ninguém morre, a não ser o "pobre" lobo mau. É curioso que os Irmãos Grimm, conhecidos por escrever histórias de conteúdo macabro tenham decidido atenuar justamente essa narrativa e adotar um final feliz.
Além do alerta contra falar com estranhos e trilhar caminhos desconhecidos, a fábula de Chapeuzinho Vermelho sempre esteve aberta a interpretações de caráter sexual. A história pode ser encarada como uma alegoria a respeito do ritual de passagem da infância para a puberdade. A menina deixa de ser criança e transforma-se em adulta no momento em que sai da barriga do lobo. O capuz usado por ela, vermelho, claramente alude à primeira menstruação. Sigmund Freud também usou o conto como uma alegoria de amadurecimento e renascimento.
É curioso que a origem de alguns dos mais famosos contos de fada encontre-se ligada muito mais ao horror do que a fantasia. Estas pequenas histórias não surgiram como uma forma inocente de entretenimento infantil, mas como chocantes revelações visando ensinar aos pequenos como o mundo real poderia ser assustador e perigoso.
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Para quem achou interessante, indico o filme "A Companhia dos Lobos" (The Company of Wolves/ 1984) que reconta de uma maneira aterrorizante a fábula de Chapeuzinho Vermelho e que me assustava terrivelmente quando eu era criança.
As cenas da transformação e do lobo emergindo de baixo da pele de uma pessoa, com o focinho brotando de dentro da boca sempre me causaram pesadelos. Hoje em dia, o estilo chocante e a aura quase barroca do filme perderam um pouco seu poder de sugestão - é difícil assustar nos dias atuais, mas quando assisti esse filme (ainda criança) fiquei positivamente apavorado.
Desde então, jamais encarei Chapeuzinho Vermelho como uma história de ninar. A não ser para quem quer ter pesadelos depois de ouvi-la.