Marilyn Monroe não foi apenas um ícone de beleza — ela foi um fenômeno cultural, uma alma inquieta e uma figura envolta em mistério. Sua trajetória, marcada por ascensão meteórica, vulnerabilidade emocional e uma morte cercada de controvérsias, revela muito mais do que o sorriso platinado estampado em pôsteres. Norma Jeane Mortenson, seu nome de nascimento, viveu entre extremos: da infância instável à glória hollywoodiana, da solidão profunda ao status de lenda.
Infância fragmentada e identidade em construção
Nascida em 1º de junho de 1926, em Los Angeles, Marilyn foi filha de Gladys Pearl Monroe, uma editora de filmes com histórico de problemas mentais. Seu pai biológico nunca foi oficialmente confirmado, embora muitos apontem Charles Stanley Gifford como o mais provável. A mãe foi internada em instituições psiquiátricas, e Norma Jeane passou por orfanatos e lares adotivos, desenvolvendo desde cedo uma sensação de abandono que a acompanharia por toda a vida.
Casou-se aos 16 anos com James Dougherty para evitar voltar ao orfanato. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em fábricas, onde foi descoberta por um fotógrafo militar. Assim começou sua carreira como modelo, que logo evoluiu para o cinema.
A ascensão e o estigma da “loira burra"
Marilyn adotou o nome artístico em 1946 e passou por uma transformação física e comportamental para se adequar ao padrão hollywoodiano. Seu cabelo foi descolorido, sua voz treinada para soar mais suave, e sua imagem moldada como símbolo sexual. Estrelou sucessos como Os Homens Preferem as Loiras (1953), O Pecado Mora ao Lado (1955) e Quanto Mais Quente Melhor (1959), mas lutava contra o estereótipo da “loira burra” que lhe era imposto.Apesar da fama, enfrentava inseguranças profundas, crises de ansiedade e dificuldades para memorizar roteiros. Buscou aprimoramento artístico estudando com Lee Strasberg no Actor’s Studio, tentando se afirmar como atriz séria. Sua performance em Almas Desesperadas (1956) é considerada uma das mais autênticas de sua carreira.
Relacionamentos turbulentos e fragilidade emocional
Joe DiMaggio |
Marilyn teve três casamentos: com James Dougherty, Joe DiMaggio (astro do beisebol) e Arthur Miller (dramaturgo). Todos terminaram em divórcio. DiMaggio permaneceu como figura protetora até sua morte, enviando flores ao túmulo dela por décadas. Com Miller, viveu uma relação intensa, mas marcada por frustrações e traições.
Ela também teve envolvimentos com figuras poderosas, como John F. Kennedy e Robert Kennedy, o que alimentou teorias conspiratórias sobre sua morte. Sua dependência de barbitúricos e álcool, somada à pressão da fama, agravou seu estado psicológico.
Morte controversa e legado eterno
John F. Kennedy |
Mesmo após sua morte, Marilyn Monroe permanece como um dos maiores ícones da cultura pop. Sua imagem é reproduzida em arte, moda e cinema, mas sua história real — marcada por luta, dor e busca por autenticidade — é frequentemente eclipsada pelo mito.
Marilyn Monroe foi moldada por Hollywood — e também silenciada por ela. Seus registros médicos e a manipulação midiática revelam uma mulher vulnerável, controlada e, em muitos aspectos, ocultada.
Manipulação midiática: a construção e destruição de um ícone
Desde o início de sua carreira, Marilyn Monroe foi transformada em produto. A indústria cinematográfica criou uma persona — a “loira sensual e ingênua” — que não refletia sua verdadeira personalidade. Norma Jeane era inteligente, culta, leitora voraz de Dostoiévski e Joyce, mas isso raramente era mostrado. Os estúdios controlavam sua imagem, suas entrevistas e até seus relacionamentos públicos.
A mídia reforçava esse estereótipo, ignorando suas tentativas de se afirmar como atriz dramática. Quando ela fundou sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions, em 1955, foi vista como uma afronta à ordem estabelecida. A imprensa passou a retratá-la como instável, difícil e emocionalmente frágil — uma narrativa conveniente para deslegitimar sua autonomia.
Registros médicos revelados: cirurgias, traumas e medicação
Em 2013, documentos médicos de Marilyn foram leiloados, revelando detalhes antes ocultos:
- Aos 24 anos, ela passou por uma cirurgia para corrigir uma “deformidade no queixo”, com implante facial.
- Também há registros de rinoplastia leve e tratamentos dermatológicos para cicatrizes causadas por acne.
- Os documentos indicam uma gravidez ectópica e múltiplos abortos espontâneos, o que contradiz a imagem pública de mulher sedutora e despreocupada com maternidade.
Além disso, foi revelado que Marilyn era tratada com barbitúricos, anfetaminas e tranquilizantes, prescritos por diversos médicos — às vezes simultaneamente — sem coordenação entre eles. Essa polifarmácia contribuiu para seu estado emocional instável e possivelmente para sua morte.
Autópsia e controvérsias: o silêncio institucional
O legista Thomas Noguchi, responsável pela autópsia de Marilyn, revelou em sua biografia recente que se arrepende da forma como o caso foi conduzido. Ele afirma que houve pressão para encerrar rapidamente o caso como “suicídio por overdose”, sem investigar profundamente as circunstâncias.
Entre as inconsistências:
- Não havia copo de água no quarto, apesar da ingestão oral de comprimidos.
- A empregada e o psiquiatra mudaram suas versões dos fatos.
- A autópsia não incluiu análise completa do conteúdo estomacal.
Esses elementos alimentaram teorias de conspiração envolvendo os irmãos Kennedy, com quem Marilyn teria tido relações íntimas. Alguns acreditam que ela foi silenciada por saber demais — outros, que foi vítima da negligência médica e institucional.
A mulher por trás do mito
Marilyn Monroe foi uma mulher complexa, marcada por traumas, inteligência e desejo de liberdade. A manipulação midiática e os registros médicos revelam uma figura profundamente humana, que lutava para existir além da fantasia projetada sobre ela.
Sua história é um alerta sobre os limites da fama, o poder das narrativas e o preço da beleza em uma sociedade que consome ícones — e os descarta quando se tornam incômodos.
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