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24 agosto, 2022

Nossos Caminhos Estranhos

A gente caminha, muitas vezes, por caminhos estranhos, cujos destinos não se tornam muito claros até que estejam debaixo de nosso nariz. E nem sempre estes caminhos levam a conclusões muito agradáveis. Talvez seja mais honesto dizer que quase nunca. 

Nossos sonhos são os motivadores de nossos passos inseguros e incertos, mas quantas vezes nos conduziram a algum tipo de felicidade? Evitamos a sinceridade dessa resposta, porque morremos de medo de perder a fé em nossos sonhos. É, somos covardes contumazes e nos alimentamos dessa pseudo-ignorância, uma auto obnubilação conveniente, para que não tenhamos que lidar diretamente com a realidade, que nos parece tão cruel e verdadeiramente impiedosa. Talvez o seja, mas é aos olhos da sociedade; a realidade em si é inexpugnável, indecifrável e inalcançável; somente podemos possui-la através de seus fragmentos e pontos de vista limitados. Somos insuficientes, incapazes, sensorialmente limitados. Ainda assim, fazemos bravatas como donos da verdade em muitas ocasiões; fanfarronice descabida de egocêntricos babacas.

Caminhamos embevecidos por entre os avanços tecnológicos, como se isso representasse nossa própria evolução humana, que, na verdade, pouco aconteceu; somos bárbaros hightech espreitando a primeira cutucada, para levantarmos mais uma vez nossas clavas e explodir os crânios de nossos desafetos, seja de forma metafórica ou mesmo literal. Pouco nos conhecemos, pouco nos controlamos, pouco humanizados. Os instintos ainda nos arrastam e tudo pelo qual lutamos tem como pano de fundo o poder, o prazer e o sexo. Absolutamente tudo. Seja evidentemente, seja disfarçadamente, com mil e um disfarces sociais, porque afinal, há de se garantir a máscara; a máscara é tudo. Ela é tão importante para nossa miserável existência, que avolumamos dezenas e dezenas delas, cujas trocas frequentes acontecem a todo instante, dia após dia, de acordo com a conveniência, de forma a mantermos nosso teatro grotesco de falsas verdades, verdadeiras mentiras travestidas e oportunas.

E nossos caminhos estranhos se prolongam tanto quanto se prolonga nossa falsidade e continuamos na desfaçatez do risco do cego que não quer ver, até que a própria vida nos dobre dolorosamente, de um jeito insuportável e inescapável.

16 maio, 2022

A Arte e a Barbárie nestes Brasis

 Ser ator no Brasil ainda significa estar disposto a lidar com uma quantidade enorme de consequências da falta de uma educação avançada e uma valorização real da cultura, que infelizmente mantém a maioria popular num limbo de preconceitos, conhecimento raso e, obviamente, falta de respeito, enquanto vítima da armadilha da mitificação da profissão. Haveria como ser diferente? A resposta é óbvia: claro que sim. No entanto, a estrutura social brasileira é tão frágil e calcada ainda num jogo desumano de capataz e serviçal, um bom figurino para disfarçar a mesma relação senhor de engenho e escravo de tempos idos (?), que se torna impossível esperar que a maior parte da população consiga de fato avaliar corretamente a importância da Arte e de outras profissões, não necessariamente da área artística, muito embora a Arte esteja em praticamente tudo em nossas vidas.

O que esperar do futuro do eterno país do futuro, que mais parece sem futuro, diante da falta de uma valorização real das aptidões das pessoas em seu processos individuais de educação, quando a própria educação, cujo princípio e proposta é até boa, mas foi sucateada pela corrupção tão vil que assola o Brasil desde sempre, não está voltada para o indivíduo e suas aptidões particulares?

É preciso que se humanize a educação, senão a maior parte de nós continuará no fundo deste abismo sombrio, olhando para cima, para os poucos bem-educados e cultos, uns se considerando quase deuses e outros presos ao complexo das impossibilidades; tudo isso parte de um espetáculo torpe, que mimetiza a real condição em que todos inebriadamente se encontram, num país eternamente de farrapos educacionais, institucionais, culturais e sociais, que vive o carnaval de que tudo está bem e - pior! - que se é o suprassumo da raça humana, muito embora se busque valorizar tudo que venha de fora, menos o que realmente vale a pena de ser copiado.

O Brasil é refém de si mesmo, de suas próprias armadilhas orgânicas, onde se deita em berço esplêndido, não necessariamente confortável, mas eternamente atado à preguiça de se fazer diferente, de se reformar, consertando seus defeitos, sempre calcado no indesviável humanismo e valorizando de verdade as tantas qualidades reais e preciosidades naturais que tem. 

Agora, essas e quaisquer outras mudanças na estrutura social só vão acontecer, quando cada indivíduo se responsabilizar e se dedicar em promover esta mudança em si e em seus próprios conceitos, padrões e paradigmas. A estrutura não muda, se a base - os indivíduos que a compõem - não mudar antes. Não existe milagre e nada vai mudar, se as pessoas que compõem a sociedade permanecerem escravas de (pre)conceitos e paradigmas inúteis, que não promovem um avanço em direção à empatia e a busca de uma vida melhor para todos.

E qual a importância do ator, assim como da própria Arte em si mesma, nesse processo? Ela é a "entidade", a vertente criativa, que nos mostra outros pontos de vista, que nos oferece a possibilidade de expandir nossas percepções, de entender melhor o quadro geral. A Arte nos convida a ir além de nosso diminuto e insuficiente ponto de vista diante da realidade, realidade essa, cuja abrangência é sempre maior do que podemos imaginar. Ir além de nossas próprias e costumeiras concepções, nos permitir entender essa crescente abrangência dentro de nossa capacidade também crescente de percepção, é a chave para continuarmos a crescer, a evoluir nesse processo o qual denominamos Vida.