08 outubro, 2019

O Ilustre Desconhecido

O Rio de Janeiro é uma cidade bastante cosmopolita. Gente de todo lugar vem passar férias aqui, acaba se apaixonando e ficando de vez. A cidade é realmente bonita, mais por sua natureza e proximidade entre montanha, floresta e mar.

Como toda cidade grande, o Rio também tem seus problemas, mas nós cariocas e algumas pessoas de fora que vieram morar aqui, logo aprendemos a lidar com estes contratempos de forma muito peculiar.

Meu nome é Alexander Zimmer. Sou escritor, ator e cineasta. Também sou entusiasta de assuntos pouco ortodoxos e considerados por alguns, no mínimo, duvidosos. Mas sou da opinião de que não se deve bater o martelo em relação a algo que não tenha sido analisado profundamente. Como diz o velho ditado: onde há fumaça, há fogo.

Partindo deste princípio, nunca fui uma pessoa de aceitar “achismos” de ninguém. Sempre que algum assunto desperta minha atenção, procuro saber um pouco mais e acabo por mergulhar fundo na questão.

Possuo uma biblioteca extensa sobre assuntos dos mais diversos, sobretudo, relacionados ao sobrenatural, arqueologia proibida, ufologia e… extraterrestres. Digo biblioteca, mas nisso também estão incluídos filmes, vídeos e recortes. Tenho mesmo muito material relacionado e, muitos deles, verdadeiras raridades; alguns garimpados a muito custo e outros, resultado de incursões e experiências pessoais.

Não preciso me estender muito sobre mim. Não sou a parte importante deste livro e até a presente data em que o escrevo, sou autor de dois outros romances: “A Maldição da Lua” e “Anne Blind entre Luz e Trevas”, o primeiro lançado pela extinta Editora Faces e o segundo lançado pela Editora Viseu. Porém, aqui faço apenas o papel de repórter. Na verdade, nem fui atrás do assunto em questão; ele veio atrás de mim – de certa forma. Bom, vamos por partes. Prometo que vou tentar sintetizar o máximo possível, para que a leitura não se torne enfadonha e redundante.

Apesar de não ser um investigador profissional e nem um ufólogo de verdade, sempre me interessei pelo assunto, a ponto de ir a simpósios e editar um blog, cujo conteúdo versa sobre diversos assuntos não muito ventilados pela mídia dita “oficial”, mas, sobretudo, a respeito do fenômeno UFO e de extraterrestres. O nome do blog é Filosofia Imortal (FI). O FI tem, atualmente, pouco mais de duas mil visitas por dia, de diversas partes do mundo. Mesmo no blog, procuro não emitir uma opinião definitiva sobre nada. Antes, deixo sempre a discussão em aberto, de forma que o leitor possa sempre tirar suas próprias conclusões, servindo também como incentivo para que o mesmo procure pesquisar mais sobre os assuntos de seu interesse. 

O blog funciona mais como um aglutinador de várias informações garimpadas na Internet, facilitando assim que o leitor consiga acessar tudo que possa interessar de forma rápida e com o frescor das constantes atualizações. E foi através do FI, que um dia recebi um e-mail, cujo autor se deixava conhecer apenas pelo nome de Hamilton e que reproduzo abaixo:

Sr. Editor
Antes de mais nada, gostaria de pedir sua atenção por alguns minutos.
Adquiri seu romance A Maldição da Lua e sou leitor assíduo de seu blog, não porque seja um grande entusiasta dos assuntos ali postados, mas porque um determinado tema tem muito a ver com minha experiência de vida.
Vivi muitas coisas em meus 45 anos de vida e gostaria que esta vivência não ficasse perdida. Inclusive, não é apenas de minha opinião que a história que gostaria que ficasse apenas guardada em minha lembrança, deva ser compartilhada com o público. Por isso escolhi entrar em contato com o senhor, de forma que pudéssemos conversar sobre o assunto e que tivéssemos a oportunidade de saber se seria de seu interesse, escrever um livro sobre tudo que tenho para contar. Caso não se interesse em absoluto pela minha história, compreenderei perfeitamente sua recusa, sem quaisquer ressentimentos. Reconheço mesmo, que o assunto pode ser, por demais, polêmico e não seria o senhor, creio eu, o único a recuar diante de minha proposta. Atitude que consideraria bem natural.
Obviamente, que não podemos falar sobre o assunto através de correio eletrônico, por isso, coloco-me a sua inteira disposição para um encontro, em local e horário de sua escolha. Peço apenas, que seja um local onde possamos conversar sobre assunto sério, sem sermos importunados por “curiosos”, apesar de local público, para que o senhor se sinta seguro.
Sendo assim, deixo meu telefone de contato. Ou se preferir, pode responder-me pelo próprio correio eletrônico.
Grato.
Hamilton


Obviamente que fiquei extremamente curioso com o e-mail do tal Sr. Hamilton. Mas ao mesmo tempo, fiquei com o pé atrás. Apesar de o texto ser respeitoso e até cuidadosamente escrito, deixando transparecer uma pessoa culta, confesso que não sabia se podia confiar em algo assim. No entanto, sendo uma história realmente especial, como o Sr. Hamilton prometia, não aceitar seria desperdiçar talvez uma boa história. Mais tarde, percebi que era muito mais do que uma boa história… muito mais do que isso. Graças a Deus não recusei.

Apesar da vontade de responder a mensagem por e-mail, fiquei reticente. A insegurança comum de saber se deveria dar atenção e levar a frente algo que poderia vir da mente de algum maluco. Vai que o cara é um psicótico ou coisa pior? Mas também, se eu não arriscasse, nunca saberia de fato o que estaria, por acaso, perdendo. Além do mais, ele mesmo sugerira que nos encontrássemos num local público.

Peguei o telefone, olhei para as teclas durante algum tempo e, num ímpeto, disquei os números. O telefone tocou quatro vezes, antes que alguém atendesse. Uma voz rouca, mas, ao mesmo tempo, jovial, sem perder em seriedade, respondeu. Identifiquei-me e logo começamos um papo mais descontraído, falando sobre o blog e diversos assuntos, antes de finalmente entramos no assunto em questão e que deveria levar a um possível livro. Como o papo era por telefone, não nos estendemos muito, por questões obvias. Então, marcamos um encontro no dia seguinte, uma sexta-feira, no restaurante Amarelinho, no bairro da Cinelândia, centro do Rio, às quinze horas, de forma que não pegaríamos o horário de almoço e nem a hora do rush, em que todo mundo sai de seus empregos e lotam tradicionalmente os bares, para um chopinho antes de ir para casa.

Cheguei meia-hora antes, de forma que pudesse estar atento e ver a chegada do ilustre desconhecido e, de repente, perceber algo de estranho ou não, de forma a me precaver e saber se não me metera numa furada. Péssima ideia! O que consegui foi ficar quase neurótico, a medida que o tempo passava e se aproximava a hora de encontrar com o ilustre desconhecido de nome Hamilton. A única coisa que sabia sobre ele era seu nome. Acabei por não perguntar nada sobre sua aparência quando falamos ao telefone, então, de qualquer forma, seria uma incógnita até que ele se apresentasse ao chegar. Ele estava na vantagem, pois sou uma pessoa pública, fácil de reconhecer por fotos na Internet.

O tempo passou lentamente, como a querer me deixar cada vez mais entre ansioso e descrente de que aquilo pudesse render uma boa história de fato. Provavelmente seria mais um maluco que contaria uma história besta sobre discos voadores e extraterrestres, sem o menor embasamento e cheia de absurdos, que qualquer pessoa com o mínimo de sensatez recusaria de cara.

O relógio marcou quinze horas e um homem de cabelos castanho-claros acenou para mim do outro lado, vindo da direção do prédio da Biblioteca Nacional. Vestia-se de forma simples. Uma calça jeans, uma camisa italiana e tênis. Quando se aproximou da mesa, levantei-me e, cumprimentando-o, ofereci a outra cadeira, para que sentasse. 

Tinha um olhar calmo, porém que transmitia uma confiança e energia e que dava a clara impressão de que aquele homem, além de ter um bom coração, realmente possuía algo importante para contar. Não sei bem como explicar essa sensação, apenas estou descrevendo o que senti.

– Pois então, Hamilton. Você me disse que tinha uma história e gostaria de compartilhar com o público através de um livro escrito por mim.
– Isso mesmo, Alex. Você se incomoda que eu te chame de Alex?
– Absolutamente. Fique à vontade. Mas… por que não publica-la no blog?
– Isso até poderia ser feito, mas acredito que um livro é uma forma mais segura e concreta de divulgar tudo quanto tenho para lhe contar. Até porque a história é grande e cheia de detalhes, o que por si só já seria motivo para um livro, creio eu.
– Tá. Mas por que eu? Por que não outro autor?

Hamilton suspirou fundo e deu um sorriso enigmático, que até então me pareceu indecifrável.

 –Bem, você escreve muito bem e seu interesse pelo assunto demonstra uma imparcialidade. Você não puxa a brasa para a sardinha de ninguém. Isso nos agrada.
– Nos? O que você quer dizer com isso? Tem mais gente envolvida?
– Bom, tudo a seu tempo. Se eu adiantasse tudo agora, neste primeiro encontro, creio que teria que resumir demais e o assunto, se me permite, tem importância demais para ser resumido; coisas essenciais se perderiam. Portanto, peço sua paciência para que eu possa falar de tudo conforme acredito que deva ser contado.

Fiquei curioso com tudo que se passava. Não só a forma como ele falava, mas o quanto seu discurso era conciso. A verdade era que eu ficava cada vez mais interessado e curioso. Apesar de tudo, Hamilton era muito natural e tranquilo; uma tranquilidade de certa forma contagiante.

Alguma coisa me dizia que ele tinha realmente uma grande história e essa história, possivelmente mexera e muito com o ser humano que ele era. O fato é que ele era diferente de todas as pessoas que eu já conhecera na vida. Cheguei a questionar se eu não estava fantasiando isso, mas era evidente demais essa sua diferença, para que eu pudesse ignorá-la. Era algo bom. Definitivamente, bom! Muito embora eu não pudesse identificar especificamente o que era diferente!

– Veja bem. O que irei te contar não é apenas mais uma história. Se me permite dizer, é “A história”. Tudo pelo que passei mudou e muito minha própria vida, a forma como vejo o mundo e, consequentemente, como vejo o universo.
– O universo? Um pouco forte isso, não?
– Bastante. E não há nada de exagero. É a mais pura verdade. Bem… como gostaria que eu começasse? Talvez seja melhor começar bem do comecinho, não?
– Ora… Como você quiser, Hamilton. Eu to aqui para te escutar mesmo. Posso gravar tudo o que você vai dizer? Seria mais fácil para transcrever no computador, quando eu chegar em casa.
– Fique à vontade, Alex. É melhor mesmo que grave, pois assim fica mais fiel e você não precisa resumir tudo que eu digo, enquanto escreve. Só peço que estas fitas sejam apagadas, assim que o livro for publicado. O objetivo não é que o conteúdo acabe circulando pela Internet em forma de áudio. Caso contrário, eu mesmo poderia fazê-lo. É importante que o produto final tenha qualidade e fidelidade. Muitas das coisas que contarei precisaremos esclarecer e isso renderá muitas horas de conversa entre nós dois. Lembre-se que este é apenas nosso primeiro encontro e há muito o que ser contado e principalmente entendido.

Concordei com seu pedido, que me pareceu muito razoável. Peguei o pequeno gravador digital dentro da pequena mochila, liguei e coloquei em cima da mesa. 

E assim começou a história de Hamilton.

Trecho do livro "Entrevista com o Extraterrestre"
De Alexander Zimmer
Baseado numa história verídica e fantástica.
Lançamento em breve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário