24 agosto, 2019

PERDIDOS

Um vento forte açoitava o deserto, onde a visibilidade era praticamente nenhuma. Nuvens de areia varriam o ar de um lado para o outro impiedosamente. Não se podia saber se era noite ou dia, pois o ar carregado obscurecia tudo, deixando todo o local em penumbra.

Anne acordou tossindo, cuspindo a areia que entrara por suas narinas, enquanto sentia o chicotear insistente da nervosa nuvem, que parecia querer lhe arrancar a pele dos ossos. Puxou a camisa, cobrindo boca e nariz, numa tentativa de conseguir respirar direito. A camisa ajudou um pouco e Anne podia respirar sem se engasgar com a poeira, mas, ainda assim, dificultosamente. Tateou ao redor e sentiu algo. Foi tateando e apalpando e percebeu que era um braço. Puxou com muito esforço para junto de si a pessoa que parecia estar meio enterrada na areia. Sentia que era Jota. Sabia que ele estava vivo, muito embora não esboçasse qualquer reação.

De repente, aquele corpo soltou um gemido, que Anne não teve certeza de ter realmente escutado, pois o barulho ensurdecedor da tempestade de areia zunia insistentemente e abafava qualquer outro som. 

Anne puxou a camisa de Jota, colocando-a sobre seu rosto, da mesma forma que fizera consigo. A diferença é que se preocupou em cobrir-lhe também os olhos, pois sabia que ele poderia ter o impulso de abri-los e a areia poderia machucá-los seriamente.

A tempestade parecia que não acabaria e Anne esforçava-se para pôr-se de pé e caminhar, arrastando Jota consigo, mas tudo era mais difícil ali, no meio de toda aquela areia impiedosa. Anne caía a todo momento, mas tinha certeza que se permanecessem ali, seriam os dois enterrados vivos. Era preciso continuar andando. 

Alguns poucos metros pareciam centenas, tamanho era o esforço. Até que simplesmente não tinha mais forças para seguir em frente, ou ficavam ali ao sabor da sorte, ou tentava seguir sozinha, sem Jota e isso ela não faria de forma alguma.

Anne desanimava e se desesperava. Não tinha nem mais forças para chorar. Suas lágrimas, que audaciosamente desciam de seus olhos, simplesmente eram consumidas pela areia feroz. Abraçou Jota com o resto de forças que tinha, procurando protegê-lo da melhor forma que pudesse, enquanto buscava esconder seu próprio rosto, cuja camisa lhe escapava a todo instante.

Foi em meio a essa desesperada luta que parecia inútil, que algo pareceu se mover através da areia. Entrecortados por jatos mais ou menos intensos, algumas sombras vinham lentamente na direção de Anne. Aos poucos os vultos foram tomando forma e logo se revelaram alguns homens muito bem protegidos por mantos, que faziam sinais uns para os outros. Um deles tentou pegar Jota, mas Anne interveio surpresa, sem saber o que estava acontecendo. Todos pararam onde estavam e Anne escutou em sua mente:

– Paz! Amigo… nós amigo… nós ajuda.

Anne sentiu uma confiança enorme abraçar seu coração. Era uma certeza e uma leveza que, ao mesmo tempo que a deixava à vontade, também lhe dava segurança e alívio. Não sabia quem eram, mas sentia que diziam a verdade. Estava exausta e diante da segurança que os homens transmitiam, Anne deixou-se relaxar. Meneando a cabeça, perdeu os sentidos.

Os homens os abraçaram, os enrolaram em mantos e, pondo-os no colo, os levaram através da areia ondulante, que voava de um lado para o outro. Logo, viam-se apenas os vultos atravessando a tempestade, até sumirem de vez no turbilhão de areia.

Trecho de 

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