E a noite adentra em si mesma, nos rebocando à revelia, através de seu leito de suspensão da razão; um descanso das elucubrações e preocupações adereçadas de nossas inúmeras mesquinharias, bem naturais à nossa personalidade egocêntrica.
16 maio, 2022
Do Desânimo do Escritor
Eu estava me sentindo desanimado para escrever, quando percebi que essa sensação, essa predisposição, tem sido promovido pelo meio editorial brasileiro. É triste como a coisa funciona de forma absurda e como uma rua sem saída - não aceitam receber seu manuscrito e mandam você arrumar um agente literário, que por sua parte, não quer te agenciar, porque você não é um escritor renomado, então nem se dá ao trabalho de ler o material para ver se é bom e merece ser defendido; ou mercado que te absorve de forma supostamente benevolente, com o tempo revela-se de forma friamente desonesta. Daí, resolvi que não deixaria essa latrina toda influenciar na minha pena ou minha vontade de trabalhar as letras e minhas histórias. Minha escrita é mais do que arte; é clara resistência. Mas, então, Arte, entre outras coisas, não é óbvia resistência a aceitar apenas a realidade insensível e formatada (muitas vezes desumana e violenta!)? Então, não estou fazendo nada do que já não fazia, apenas que com mais consciência, determinação e autenticidade.
13 julho, 2021
A Manhã Fria
A luz ofuscante do sol da manhã fere levemente os olhos ainda acostumados à noite de sono, mas o dia não se importa e precisa seguir em frente, independente de nossa vontade, de nossas ideias. Enquanto os pássaros cantam uma alegria que não é a minha e ainda me falta explicação sensata, vou atravessando lentamente o jardim e buscando contraditoriamente o calor do sol, o mesmo que me fere os olhos, nesta manhã fria de inverno.
O passado teimosamente insiste em me visitar, mas não tenho pensamentos para ele agora e prefiro as trivialidades mais ao alcance do tempo presente, apesar de aparentemente sem atrativos que me seduzam, a não ser pela necessidade do calor solar.
O céu está absurda e profundamente azul e promete um calor que o dia não poderá certamente cumprir; o inverno impõe sua hegemonia de direito e, aceitemos ou não, é o que há para vivenciar, independente de nossa revolta raquítica e insuficiente. Mas eu gosto do inverno. Ele não é o portador de falsas promessas de supostas delícias, como o verão que anuncia um tempo de alegria, enquanto sufocamos e esvaímo-nos em insuportáveis quarenta e cinco graus de loucura torturante. O inverno me ajuda a lembrar que somos fortes, mas nem tanto e, por isso mesmo, somos mais humanos e menos pretenciosos.
Olho para o fundo limoso da piscina, que pede por uma limpeza que não virá tão cedo. Algumas folhas boiam e outras jazem na profundidade, um vislumbre metafórico quase piegas da morte, que já não me assusta há muitos anos. Sua força é um mito alimentado pelo medo dos ignorantes e covardes. Apesar de reconhecer minha covardia óbvia e denúncia de minha lamentável fraqueza, da morte só reconheço uma passagem necessária, enquanto os idiotas esperam medrosa e contraditoriamente a resolução de tudo.
Sento na cadeira de praia e, como a carne morta numa grelha, me exponho ao calor quase sutil dessa manhã sem sentido e dispensável, não fosse a impossibilidade de recusar o dia que se há de viver, independente de minha vontade desimportante.
O tempo consome as horas lentamente, enquanto o sol sorrateiramente aumenta sua fome sobre mim, aproveitando-se de minha ânsia por calor; um estratagema que esconde em suas camadas sutis, os furtivos limites entre vida e morte. E não fosse o reclame do corpo diante do inevitável desconforto que beira o exagero, o tênue limite se tornaria o arauto evidente do ocaso humano, a despedida silenciosa, o final da comédia.
Mas sigo ao sol, enquanto me entrego a um dos poucos prazeres que me restam, que seja os poucos minutos de calor nesta manhã fria, antes que o desconforto me leve a praguejar aquele que antes me ofertava prazer.
23 dezembro, 2020
O Próximo Passo Humano
26 junho, 2019
Dialética Tardia
Espreitam a inconsciência atrevida,
Que sugere idiossincrasias circenses
E adoráveis horas de insensatez,
Enquanto subimos e descemos fugazes
Sonhos, nuvens e paladares insones.
27 maio, 2019
A Senda
Ocultos permanecem os portais
Oro boros guarda serena
Os segredos sagrados
O adepto insiste determinado
O trilhar é derradeiro caminho
O cajado, apoio e sabedoria
O livro, páginas de dias
Os anos, insignificantes instantes
O momento, a eternidade
O início é o fim
O fim, novo princípio
O prêmio, a vida
O preço, a morte
O nascimento e a alegria
O sábio.
Etílico Transparente
Transporta, transcende...
Inflama a manhã fria,
Conduzindo ao limbo
Os restos de insensatez.
O chilrear nas árvores;
Sinfonia cacofônica;
Trilha sonora sem sentido.
Me arrasta o sol,
Vencendo sombras
E perfumes.
Reticências
Depois que estive lá duas vezes;
Olhei-me nu no espelho
Sobre a paisagem dos lençóis,
Enquanto Silencioso eco insistia
Nas lembranças alegres
Senti afeto ao me ver,
Porque olhava e não me via,
Apenas a cama grave
Cheia de reticências,
Indecências
E pedaços de dois;
O Tao perfeito,
Sem espaço,
Estreito.
Pausa Por Favor
Dos pés descalços de ideias
Descanso não senhor
Depois dos pontos e traçados
À beira da estrada da vida
Últimos suspiros em suspenso
Sob o céu repleto de estrelas
Não dormem os desejos
Mas apelam para o silêncio
Que a noite não trouxe.
Na Hora Mais Escura
Enquanto dançamos os últimos passos,
Antes de atravessarmos os portões
E voltarmos às novidades confortáveis
À luz extasiante que embriaga o dia
Dos sorridentes inocentes
Que nunca souberam de nós.
21 fevereiro, 2019
O Início do Despertar
18 maio, 2017
Câncer e Conchas
20 dezembro, 2016
SONHOS
Algumas noites
Me levam as sombras
Me mostram vozes perdidas
E observo outros reinos
Passagens restritas
Nenhuma ciência pode supor
Que sonhos façam sentido
Todas as dores de quem não vê
Seu ideal ferido
Na luz perco a razão
Reinventando o tempo vazio
Esperando a vinda do sol
Que me leve do infinito frio
O mar quebra na praia
Indiferente ao céu noturno
Enquanto caminho solitário
Imerso, infinito e soturno.
Olhos No Espelho
Olho-me no espelho
Vejo olhos através de olhos
Impávido fico... observando
A incerteza de ser eu.